Como são belos nos montes os pés daqueles que anunciam boas novas, que proclamam a paz, que trazem boas notícias, que proclamam salvação, que dizem a Sião: “O seu Deus reina!”
Is 52:7

Fui acordado as 1:00h da madrugada desta ultima 2ª feira 27 de Fevereiro com o tom triste da vós de meu colega de ministério Rev Geison Vasconcellos com a trágica notícia do assassinato frio e calculista do Bispo Robinson Cavalcanti e de sua Esposa Miriam Cotias Cavalcanti. Não é necessário dizer a reação que tive, algo assim não se pode descrever em palavras, são muitos sentimentos que se misturam e dificilmente podem ser identificados de maneira isolada, é uma verdadeira mistura de tristeza, ansiedade, sentimento de perda, olhar para o alto, busca de uma explicação entre outros.

Hoje, passadas cerca de 48 horas do ocorrido e tendo o dia de ontem sido estafante em estar com os colegas pastores e lideres da Diocese de Recife procurando solucionar problemas, atender a imprensa, organizar tarefas e manter a igreja em marcha, sendo esse o maior desejo do Próprio Bispo Robinson. Como disse o Pr.Dionisio Pape, discipulador do Bispo Robinson “Muitos dos soldados de Cristo morrem no campo de batalha”. Nossa mente começa a enviar ao nosso coração, agora mais quieto, as memórias e a noção do vácuo que existe entre nós com a ausência de Robinson Cavalcanti.

Nestes últimos quase 33 anos convivi com Robinson Cavalcanti Cristão atuante, postulante ao ministério, estagiário em nossa paróquia do Bom Samaritano, professor da Escola Bíblica, líder da ABU, Professor da UFRPE onde estudei, ordenado diácono e depois Presbítero na igreja, companheiro de militância na causa evangélica anglicana, membros da EFAC, (Aliança Evangélica da Comunhão Anglicana), parceiro de inúmeras viagens internacionais, onde cada voo era uma aula de história da igreja, Robinson me introduziu no cenário anglicano internacional, do que sempre fui muito grato por esse discipulado eclesial. Durante alguns anos vivemos quase um exílio eclesiástico aqui em Recife quando nos encontrávamos semanalmente para almoçar no CEFISH da UFPE e ali, pensávamos uma igreja anglicana, evangélica e atuante. Por fim tive o privilégio de ter indicado o seu nome para a eleição episcopal em 1996 dizendo a ele “Robinson, seu nome deve ser colocado” e ele com susto apenas disse “EU?” ali começava a sua caminhada para a carreira que lhe estava proposta. Erros? Quem não os tem, atire a primeira pedra!! Mais indiscutivelmente, olhando para a história não seríamos hoje a Diocese de Recife se ele não estivesse no comando. Quando ele eventualmente perdia um ´pouco da motivação pelas dificuldades eu sempre lembrava ele dizendo “Já avançamos muito, lembre dos tempos do CEFISH”. Robinson foi quem me conduziu ao altar e me apresentou em minha ordenação presbiteral.

O vácuo é grande, minha memória somente agora me avisa que a partir de agora não terei mais ele pregando e confirmando em nossos cultos com aquele estilo que misturava informação, formação e diversão, nem falando com abertura à nossa juventude, não teremos mais D. Miriam com a sua discrição incomum sentada nas cadeiras da igreja sempre atenta e risonha em resposta ao avanço da igreja. Em todas as suas visitas a PAES ela sempre dizia “ parabéns pastor, sua igreja está linda” e com certeza dizia algo semelhante a todos os nossos colegas.

Protestante histórico, mas com um espírito ecumênico definido, orgulhoso de fazer parte da Igreja Evangélica e incansável crítico da banalização histórica que vem acontecendo nos dias atuais. Bispo Robinson era um “vibrador” com o protestantismo histórico. Lembro de uma vez caminhando com ele pelas ruas da cidade de Oxford na Inglaterra quando ele disse “ Miguel, a igreja pode não ter mais a força que teve aqui nessa região, mas seus rastros estão por todos os lados essa nação deve muito a Igreja” isso se referindo a todas as instituições, prédios, nomes e momentos da história onde a igreja foi decisiva no processo de definição da nação Inglesa.

Robinson você partiu para a presença do Pai e ele levou Miriam consigo talvez porque sabia que nem no céu você saberia viver sem ela.

A você amigo, a saudade e a gratidão por tudo

Que Deus nos dê forças para seguir adiante, combater o bom combate e guardar a fé assim com você fez. Tenha certeza que a Igreja seguirá em frente.

Miguel Uchôa