Conceito
A Igreja de Jesus Cristo e o povo de Deus tem sido chamado ao longo dos séculos de “Família da fé” e, em meu entendimento, esse é de fato o melhor termo para ser usado quando nos referimos a esse conjunto orgânico de pessoas que o apóstolo Paulo chama também de corpo. O padrão “família” é encontrado em toda Bíblia desde o éden a família é valorizada e isso não significa, nem de perto, algo contra o seu caráter institucional, afina de contas institucionalizamos tudo pois vivemos debaixo de uma ordem humana mesmo sendo seres essencialmente espirituais.
Como falhos e ainda tendo as marcas do pecado em nós, entendemos que há verdades e equívocos em nosso meio e assim isso pode trazer tanto bençãos como maldição. Mas acima de tudo precisamos ser honestos em não usar passagens seletivas, hermeneuticamente mal trabalhados e exegeticamente fora de contextos para tentar justificar nossos pontos de vista.
Uma Breve observação em Mt 23:8-13…
Toda palavra fora do contexto é usada como pretexto, sabemos disso muito bem. Tenhamos o cuidado de observar com mais zêlo e honestidade o texto.
“Mas vocês não devem ser chamados ‘rabis’; um só é o mestre de vocês, e todos vocês são irmãos. A ninguém na terra chamem ‘pai’, porque vocês só têm um Pai, aquele que está nos céus. Tampouco vocês devem ser chamados ‘chefes’, porquanto vocês têm um só Chefe, o Cristo. O maior entre vocês deverá ser servo.Pois todo aquele que a si mesmo se exaltar será humilhado, e todo aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado. “Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês fecham o Reino dos céus diante dos homens! Vocês mesmos não entram, nem deixam entrar aqueles que gostariam de fazê-lo. Mt 23:8-13…
Não é necessário muito para compreendermos que esse texto está dentro do duro discurso de Jesus contra os fariseus e o discurso segue firme “ai de vocês fariseus…” segue até o fim do capítulo condenando a hipocrisia dos fariseus, abordando vários aspectos inclusive do dízimo etc.
Esses homens eram déspotas, dominadores e, pelas palavras do próprio Jesus, hipócritas, ou seja, viviam explorando o povo dominando sobre eles. Seria uma porção de extremo fundamentalismo escriturístico e desonestidade hermenêutica tentar enquadrar a todos que desenvolvem o conceito de Igreja – Família, que trabalham a paternidade espiritual como valor bíblico dentro desse texto. Afinal de contas, se agirmos com esse mesmo fundamentalismo hermenêutico não trataríamos nossos chefes como “chefes” nem nossos professores como “mestres” afinal de contas estariam todos dentro de toda “proibição”, além disso a expressão “A ninguém na terra chamem ‘pai” nos proibiria de chamar assim nossos pais biológicos, afinal de contas, eles estão “na terra” portanto partindo da honestidade de intenção, que nos deve ser peculiar, vamos observar um pouco da história e das escrituras. Afinal de contas, como bons Anglicanos e herdeiros da mente teológica de Richard Hooker sempre devemos tratar as coisas à luz da RAZÃO-TRADIÇÃO-ESCRITURAS.
A Paternidade Espiritual: Um Chamado Bíblico e Prático
Paternidade espiritual refere-se ao relacionamento entre líderes espirituais e aqueles a quem eles guiam na fé, em uma dinâmica semelhante à de um pai e seu filho. Embora a Bíblia enfatize que Deus é o único Pai em sentido espiritual (Mateus 23:9), as Escrituras também evidenciam exemplos de líderes que atuam como “pais” na fé para outros crentes, fornecendo orientação, correção e encorajamento. Este conceito é central no Novo Testamento, particularmente no ministério de Paulo, que se referia a si mesmo como pai espiritual dos seus convertidos.
O Fundamento Bíblico da Paternidade Espiritual
A ideia de paternidade espiritual pode ser vista nas Escrituras de várias maneiras. Paulo, por exemplo, frequentemente se referia aos seus discípulos e convertidos como seus filhos na fé. Em 1 Coríntios 4:15, ele escreve: “Porque ainda que tivésseis dez mil instrutores em Cristo, não teríeis, contudo, muitos pais; pois eu pelo evangelho vos gerei em Jesus Cristo.” Este versículo reflete o papel de Paulo como aquele que, por meio do ensino e orientação, ajudou a formar a fé dos coríntios.
De maneira semelhante, em 1 Tessalonicenses 2:11, Paulo compara seu cuidado por eles ao de um pai que orienta seus filhos. Ele enfatiza que sua função era de encorajá-los a viver de maneira digna de Deus. O apóstolo expressa aqui a essência da paternidade espiritual: não é uma relação de poder ou domínio, mas de serviço, amor e cuidado para o crescimento espiritual de outros.
A paternidade espiritual do apóstolica
O Bispo Anglicano de Massachussets Philip Brooks fez essas considerações em seu famoso sermão “O Orgulho da Vida” (The Pride of Life) que veio a se tornar um livro.
Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo… 1 Jo 2:1-2 Muito terno e eminentemente joanino é a abertura deste parágrafo. “Meus filhinhos.” Tekníon (a forma diminutiva de téknon, “criança”) – uma criança pequena; infante (figurativamente) alguém profundamente amado (querido).
Isso sugere:
- A paternidade espiritual do apóstolo
Por nove vezes nessa epístola João usa a expressão “filhinhos” e Paulo dirigiu exatamente as mesmas palavras aos cristãos gálatas que ele havia gerado espiritualmente
Meus filhinhos, por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja formado em vós; Eu bem quisera agora estar presente convosco, e mudar a minha voz; porque estou perplexo a vosso respeito. Gl 4:19
Ele se referiu com grande ternura e força ao mesmo relacionamento ao escrever aos coríntios
Não escrevo estas coisas para vos envergonhar; mas admoesto-vos como meus filhos amados. Porque ainda que tivésseis dez mil aios em Cristo, não teríeis, contudo, muitos pais; porque eu pelo evangelho vos gerei em Jesus Cristo.1 Co 4:14-15
Provavelmente, muitos daqueles a quem São João estava escrevendo eram seus filhos espirituais.
- A afeição espiritual do apóstolo. O uso do diminutivo indica isso.
- A autoridade espiritual do apóstolo. Sua relação paternal com eles, sua terna afeição por eles e sua idade venerável combinam-se para investir suas palavras com autoridade.
A Paternidade Espiritual no Contexto da Igreja
Na prática, a paternidade espiritual dentro da igreja envolve pastores, líderes e mentores que ajudam novos crentes ou discípulos a crescerem na fé. Esses líderes, como pais espirituais, compartilham de sua experiência, sabedoria e discernimento, ajudando a guiar aqueles sob sua responsabilidade na vida cristã. Eles atuam como figuras de autoridade, mas sempre sob a perspectiva de serviço e cuidado amoroso, buscando formar o caráter de Cristo naqueles que acompanham.
No entanto, é essencial que a paternidade espiritual seja exercida com humildade. 1 Pedro 5:3 adverte os líderes a não exercerem autoridade “como dominadores”, mas a serem “exemplos para o rebanho”. O abuso de autoridade ou a criação de dependência excessiva dos “filhos espirituais” em relação aos seus “pais espirituais” pode gerar distorções e abusos espirituais.
O Papel da Paternidade Espiritual no Crescimento Pessoal
A paternidade espiritual proporciona um ambiente seguro para o crescimento pessoal. Assim como um pai biológico orienta, disciplina e encoraja seus filhos, o pai espiritual também tem a responsabilidade de fazer isso na vida daqueles a quem ele “gerou” espiritualmente e deve influenciar. O crescimento no caráter cristão, a compreensão das Escrituras e a prática dos dons espirituais são áreas em que um pai espiritual pode ajudar seus “filhos” a se desenvolverem. O discipulado “vida na Vida” e o investimento na vida pessoal do outro são marcas fortes da paternidade espiritual e ajuda os discípulos a discernirem a vontade de Deus e a superarem desafios pessoais e espirituais.
Os Desafios da Paternidade Espiritual
Apesar de sua importância, a paternidade espiritual traz consigo desafios. Como seres humanos errantes podemos falhar no propósito desse tão abençoador princípio bíblico. Um dos maiores riscos é a dependência excessiva. Um “filho espiritual” pode se tornar tão dependente de seu mentor que não desenvolve sua própria maturidade espiritual. Além disso, há o perigo do líder espiritual ultrapassar os limites da autoridade, gerando controle ou manipulação espiritual, o que é uma deturpação do papel de serviço que Cristo exemplificou.
Outro desafio é a disposição de assumir tal responsabilidade. O exemplo de Paulo, que dedicava tempo para escrever cartas, visitar e orar pelas igrejas e pelos crentes individuais, demonstra o nível de comprometimento esperado de um pai espiritual.
Paternidade Espiritual no Antigo Testamento
No Antigo Testamento, a ideia de paternidade espiritual é um tema presente direta e indiretamente, refletindo a relação de Deus com Israel e a função dos líderes espirituais na condução do povo. Embora o conceito de “paternidade espiritual” como é entendido no cristianismo hoje não seja explícito, várias passagens ilustram figuras que agem como pais espirituais, cuidando, ensinando e direcionando o povo de Deus.
Deus como Pai de Israel
A primeira e mais importante noção de paternidade no Antigo Testamento é a de Deus como Pai de Israel. O relacionamento entre Deus e o Seu povo é frequentemente descrito em termos de paternidade. Deuteronômio 32:6 refere-se a Deus como aquele que criou, sustentou e cuidou de Israel: “Não é ele o teu pai, o teu criador, que te fez e te estabeleceu?”. Neste sentido, Deus é o Pai espiritual de Israel, responsável por seu bem-estar, instrução e correção. Em Isaías 63:16, o profeta declara: “Tu, Senhor, és o nosso Pai, nosso Redentor; desde a antiguidade é o teu nome.” A paternidade divina é associada ao papel de redentor e protetor, ressaltando a proximidade de Deus com o Seu povo.
Moisés como Pai Espiritual de Israel
Moisés, uma das figuras mais importantes do Antigo Testamento, pode ser visto como um “pai espiritual” para o povo de Israel. Embora não seja chamado diretamente de “pai”, o seu papel de líder, intercessor e mediador entre Deus e o povo sugere uma função paternal. Em várias ocasiões, Moisés atua como um guia espiritual e moral, ensinando o povo a seguir os mandamentos de Deus, corrigindo-os quando erram, e intercedendo por eles diante de Deus, como um pai faria pelos seus filhos. Não seria estranho que no contexto de hoje moisés fosse chamado de Pai, de fato ele foi um Paizão.
Os Profetas e a Paternidade Espiritual
Os profetas do Antigo Testamento também podem ser considerados como pais espirituais, pois seu papel incluía não apenas pregar a palavra de Deus, mas também corrigir, exortar e guiar o povo de volta a uma relação correta com Deus. Profetas como Elias e Eliseu serviram como líderes espirituais, cuidando do bem-estar espiritual de Israel e instruindo o povo e os reis a seguirem o caminho de Deus. A relação de Elias com Eliseu pode ser vista como uma relação de paternidade espiritual. 2 Reis 2:12 narra que, quando Elias é arrebatado ao céu, Eliseu clama: “Meu pai, meu pai, carros de Israel e seus cavaleiros!”. Essa declaração não é uma referência à paternidade biológica, mas sim ao papel de Elias como mentor espiritual e líder de Eliseu e de Israel.
A Figura do Rei como Pai Espiritual
A figura do rei em Israel, especialmente na pessoa de Davi e seus descendentes, também carrega aspectos de paternidade espiritual. Os reis eram considerados não apenas governantes políticos, mas também líderes espirituais, responsáveis por guiar o povo na fidelidade a Deus. Em 2 Samuel 7:14, Deus promete a Davi: *”Eu serei para ele um pai, e ele será para mim um filho.”* Este versículo é parte da aliança davídica, na qual Deus promete ser Pai dos reis descendentes de Davi, o que por sua vez posiciona os reis como pais espirituais de Israel.
A paternidade espiritual no Antigo Testamento reflete-se principalmente na relação de Deus com o Seu povo, na liderança de outras figuras. Esses líderes, mesmo que não sejam explicitamente chamados de “pais”, desempenham papéis que correspondem ao conceito de paternidade espiritual, guiando, corrigindo, intercedendo e cuidando do povo de Deus. Essa é uma abordagem por princípios evitando assim que o fundamentalismo escriturístico nos bloqueie a mente
O Termo “Pai” na Eclesiologia Cristã: O Padre e o Bispo como Pai em Deus
Na eclesiologia cristã, o uso do termo “pai” para se referir aos líderes espirituais, como os padres e bispos, é uma prática de longa tradição. Essa designação não apenas reflete a autoridade espiritual desses líderes, mas também o papel pastoral e paternal que eles desempenham na vida dos fiéis, inspirando-se na paternidade divina de Deus. Este termo expressa um relacionamento de cuidado, ensino e orientação espiritual, onde o padre ou bispo atua como uma figura paterna em relação aos membros da comunidade cristã, ajudando-os em seu crescimento espiritual e na vida em Cristo.
A Paternidade Espiritual do Padre (Pai)
O termo padre, derivado do latim pater (“pai”), é utilizado na tradição cristã para designar os sacerdotes que lideram as igrejas, comunidades de fé. Esse título reflete a paternidade espiritual do padre em relação aos seus fiéis. Assim como um pai biológico cuida de seus filhos, o padre cuida das vidas daqueles que lhe são confiados, oferecendo orientação espiritual, sacramentos e apoio pastoral. A função do padre é essencialmente paternal, pois ele guia os membros de sua comunidade em sua caminhada de fé e vida cristã.
A paternidade espiritual do padre é exemplificada em sua responsabilidade pela administração dos sacramentos e pelo papel de intercessor diante de Deus. Na tradição católica ao realizar sacramentos como o batismo e a Eucaristia, o padre age em persona Christi, refletindo a paternidade de Deus. Segundo Edward Schillebeeckx, o padre, ao presidir os sacramentos, serve como uma imagem do “pai espiritual” que cuida do bem-estar espiritual de sua comunidade
O Bispo como Pai em Deus
A figura do bispo também carrega um forte significado de paternidade espiritual. Os bispos são vistos como pais espirituais das dioceses que eles governam, tendo a responsabilidade pastoral não apenas de guiar seus fiéis, mas também de supervisionar os padres sob sua jurisdição. A tradição eclesiástica ensina que o bispo, como sucessor dos apóstolos, possui uma autoridade espiritual que o coloca como pai de sua diocese, com o dever de ensinar, santificar e governar em nome de Cristo.
A teologia eclesiástica expressa essa paternidade em vários documentos conciliares e da patrística. O Concílio Vaticano II que promoveu significantes reformas na teologia e eclesiologia católica romana, por exemplo, enfatizou o papel do bispo como pastor e pai espiritual ao afirmar que ele deve “exercer a função de pai, professor e pastor, cuidando de sua diocese com diligência pastoral” (Vaticano II, Lumen Gentium, 27). Além disso, Inácio de Antióquia, em suas cartas, refere-se aos bispos como “pais espirituais” que guiam suas igrejas com amor paternal, refletindo o cuidado de Deus por Seu povo.
Como Anglicanos temos na nossa liturgia oficial o tratamento do Bispo como Pai em Deus em todas as versões do Livro de Oração Comum em qualquer país, província ou idioma, o Bispo é recebido como o Pai em Deus. No rito da confirmação por exemplo é dito
Ministro: Reverendíssimo Bispo, pai em Deus, apresentamos essas pessoas para confirmarem sua fé. (Livro de Oração Comum Contemporâneo p 38 da Igreja Anglicana no Brasil)
O Significado Pastoral do Termo “Pai”
O uso do termo “pai” no cristianismo tem implicações pastorais profundas. O padre ou pastor e o bispo são chamados a imitar a paternidade de Deus, que é caracterizada por amor, paciência, correção e cuidado. Na tradição católica, ortodoxa e anglicana, esse termo não apenas designa uma posição de autoridade, mas também evoca um chamado para liderar com humildade e serviço. O padre e o bispo são responsáveis pelo crescimento espiritual de sua comunidade, assim como um pai biológico é responsável pelo bem-estar de seus filhos.
Em suas responsabilidades, tanto o padre ou pastor quanto o bispo exercem sua paternidade espiritual na prática da direção espiritual, no aconselhamento pastoral e na administração dos sacramentos, ajudando os fiéis a crescerem em santidade e fé. Thomas Oden argumenta que a paternidade espiritual, quando exercida corretamente, “representa o modelo de Deus Pai para a comunidade cristã, servindo como um exemplo tangível de Sua liderança e cuidado” (Oden, Pastoral Theology: Essentials of Ministry, 1983, p. 98).
Equilíbrio e Abusos da Paternidade Espiritual
Embora a paternidade espiritual seja um chamado nobre e essencial dentro da Igreja, ela também traz desafios. O abuso dessa autoridade, muitas vezes associado a práticas de manipulação ou controle, pode corromper a verdadeira natureza desse relacionamento paternal. O abuso da paternidade espiritual distorce a função do padre, pastor ou do bispo, transformando-o de guia espiritual em uma figura autoritária.
O termo “pai” na eclesiologia cristã, quando aplicado ao padre, pastor e ao bispo, reflete uma rica tradição de cuidado espiritual, liderança pastoral e serviço sacramental. Tanto o padre quanto o bispo são chamados a ser reflexos da paternidade de Deus, guiando suas comunidades com amor, sabedoria e responsabilidade espiritual. No entanto, este papel deve ser exercido com humildade e serviço, lembrando sempre que a verdadeira paternidade espiritual vem de Deus, o único Pai supremo de todos os crentes.
O uso do termo “DOM”
Na igreja Anglicana no Brasil, logo que fui sagrado Bispo solicitei que o termo comumente utilizado na tradição católica “DOM”, não fosse utilizado entre nós e com a sagração dos demais bispos isso foi passado a eles, não faz parte de nossa cultura eclesiástica. E por quê?
Um breve estudo etimológico do termo “DOM” pode mostrar que ele não é apropriado ao papel dos bispos e de nenhum servo de Deus. É claro que eu entendo que é uma tradição, mas eu me refiro ao sentido do termo que não condiz com o papel dos Bispos, os Pais em Deus.
O termo “Dom” utilizado na eclesiologia tem origem no latim “dominus”, que significa “senhor” ou “mestre”. Esse título, utilizado nas tradições religiosas, reflete um sinal de respeito e autoridade espiritual. A palavra dominus, era aplicada tanto a líderes seculares quanto a figuras religiosas.
No latim clássico, DOM (dominus) era usado para se referir a alguém que possuía autoridade, geralmente um senhor de terras ou um patrão. Quando o cristianismo começou a se expandir pelo Império Romano, o termo foi adaptado para indicar a autoridade espiritual.
Os mais antigos vão lembrar de DOM Diego, fazendeiro, latifundiário que se transformava no zorro, defensor dos oprimidos. Dom Diego era essa figura de autoridade, cheio de servos cuidando de suas terras e plantações. Essa é a raiz da palavra.
A etimologia do termo “Dom” reflete a evolução de uma palavra latina secular que passou a ter um significado dentro do contexto eclesiástico. De suas raízes em dominus (senhor, aquele que tem domínio) no Império Romano, o termo foi adotado e transformado pela Igreja para designar seus líderes espirituais. Não me sentiria a vontade recebendo esse título e, sabendo de suas raízes, prefiro seguir a tradição bíblica-histórica e procurar me mostrar como PAI espiritual do rebanho de Deus.
Epílogo
É bastante óbvio que tudo que se faz no âmbito da igreja sofra distorções. Isso acontece desde o uso das Escrituras até as práticas litúrgicas, passando pelos papeis e posições na vida eclesiástica. Déspotas existem em todas as instancias da sociedade e onde houver um ser humano existe esse, e outros riscos.
Nosso papel como líderes é seguir o conselho bíblico que nos diz
Examinem todas as coisas, retenham o que é bom 1 Ts 5:21
No mais popular linguajar evitemos “jogar a criança e a bacia fora junto com a água suja”
Assim entendo que a igreja família é o melhor caminho e a paternidade espiritual um princípio bíblico que abençoa a comunidade da fé, além de ser uma tradição saudável que devemos herdar e valorizar.
Para tudo existem verdades e equívocos, bençãos e maldições, cabe a nos julgar e desenvolver na família a verdade e a benção e deixar que os equívocos e as maldições sejam evitados por nós, mas julgadas apenas por Deus.
Entendo o Pai espiritual que sugere cuidado e amor com o rebanho muito melhor do que tento entender o termo DOM como alguém que é senhor e domina as pessoas como quem domina e possui uma porção de terra, assim, prefiramos ficar como PAIS ESPIRITUAIS
Toda a glória a Deus
Referências Bibliográficas
– Schillebeeckx, Edward. O Sacerdócio Católico: Uma Nova Teologia Sacramental. São Paulo: Paulus, 1983.
– Oden, Thomas C. Pastoral Theology: Essentials of Ministry. Harper & Row, 1983.
– Concílio Vaticano II. Lumen Gentium. In: Documentos do Concílio Vaticano II. Paulus, 1965.
– Schökel, L. Alonso. Diccionario Bíblico Hebreo-Español. Estella: Verbo Divino, 1994.
– Schaefer, Konrad R. Salmos: Oração e Poesia. São Paulo: Loyola, 1997.
– Coogan, Michael. The Old Testament: A Historical and Literary Introduction to the Hebrew Scriptures. New York: Oxford University Press, 2011.
– Brooks, Phillips. The Pride of Life. Boston: Bible Hub, 1887. Acessado em [20.10.2024]. Available at https://biblehub.com.