Li por estes dias uma excelente entrevista feita a Paul Freston sobre o ser evangélico, realmente gostei, bastante edificante e esclarecedora. Precisamos saber e definir bem este termo. Sou parte de uma associação mundial em minha denominação cristã chamada “Aliança dos Evangélicos na Comunhão Anglicana”. Mas o que a palavra “Evangélico” realmente significa! Parece que temos observado o advento de mais um rótulo. Ser evangélico hoje pode significar estar ligado a uma denominação de origem protestante, pode significar um antagonismo ao ser católico e às vezes escuto o termo ser usado se referindo a um tipo de casta, elite espiritual ou coisa parecida. Lembro-me de um anuncio de rádio que dizia: “Prove que é evangélico e ganhe 10% de descontos…”
     Minha pergunta é: Como poderia eu, provar que sou evangélico! Esta pergunta seria respondida por alguns com a apresentação de uma carteira de igreja, mas isso ainda não é ser evangélico, existem muitas pessoas que estão associadas a uma denominação evangélica e nem por isso apresentam as características do evangelho. Outro responderia mostrando a igreja que frequenta, se a frequência à igreja nos torna-se evangélicos, me tornaria um chinês ao frequentar assiduamente um restaurante chinês. Não, nem frequência, nem membresia, podem atestar o ser evangélico.
    O professor Davison Hunter, da Universidade de Virgínia EUA, disse que os evangélicos segundo o mundo acadêmico seriam os “lunáticos religiosos” “Zelotes de direita”, “fanáticos”, “demagogos”, “anti-intelectuais e simplistas”, sua mensagem seria considerada “maliciosa”, “cinica”, “bitolada”, “separatista”, “irracional”.  O que tem este  cristianismo evangélico para levantar tamanha popularidade e repulsa!
  O ser evangélico é a única maneira de ser cristão!! Não me julguem por esta afirmação, não me refiro as carteirinhas ou aos rolls de membros das igrejas, mas sim a um certo “DNA” que cada cristão deve ter,  ligado e fundamentado nas Escrituras, encravado na história e que nestes últimos 2.000 anos tem sido agente de transformação na sociedade.
   A fé evangélica não é uma inovação recente, dizia O Rev. John Stott em sua excelente obra “A verdade evangélica” (título original) diz: “…nos atrevemos a dizer que o cristianismo evangélico é o cristianismo original apostólico, o cristianismo do Novo Testamento”. Lutero afirmou: “não ensinamos nada de novo, mas repetimos e estabelecemos coisas antigas, que os apóstolos e todos os mestres piedosos ja ensinavam antes de nós”. Wesley, avivalista do séc XVIII na Inglaterra era acusado de introduzir novas doutrinas, ao que sempre respondia “o que ensino é o bom e velho cristianismo…”    
   Ensinando o velho ensino, o ser evangélico faz novas todas as coisas e prega a verdade bíblica como libertação de todos os males (Jo 8:32). O ser evangélico, fiél ao evangelho se insurge contra todas as formas de opressão. Foram os evangélicos que marcaram a história da Europa com lutas históricas. O sociólogo J. Brady escreveu o clássico “A Inglaterra antes e depois de Wesley” fazendo menção ao impacto social do avivamento evangélico liderado pelo ministro Anglicano. William Wilberforce , líder evangélico, lutou por décadas pela abolição do tráfico de escravos na Inglaterra e em suas colônias, conseguindo-a em 1883, sua argumentação era bíblica e solidamente evangélica. Confrontava a nação com a mais pura doutrina evangélica.
  Uma grande injustiça e que se comete com frequência, é comparar pejorativamente o ser evangélico com uma postura fundamentalista. O ser evangélico na sua essência é fundamentalista sim! A origem deste termo esta ligada a muito respeito e seriedade. Se refere a publicação de 12 livretos sobre os fundamentos do evangelho, estes livretos circularam entre 1909 e 1915 e tratavam de temas como salvação, justificação etc. O termo fundamentalista estava ligado a qualquer pessoa que acreditava nas verdades centrais da fé cristã, os fundamentos. Portanto em sua origem o termo fundamentalista era aceitável como sinonimo de evangélico.  Lamentavelmente hoje as coisas mudaram e o fundamentalismo está associado aos grupos que se isolam e que rejeitam as ciências, que entendem a Bíblia numa perspectiva apenas literal, que confundem doutrina bíblica com usos e costumes, que demonizam a cultura e errando, assumem valores de outras culturas como santas e divinas, especialmente a cultura do colonizador espiritual ou implantadores das missões.
  O ser evangélico supera tudo isso e se assume como a essência do evangelho, não entendendo essência, como a mais pura, porém como as coisas essenciais, mais relevantes,  inegociáveis que o evangelho nos apresenta. O mundo cristão hoje vive uma verdadeira “Babel evangélica”, a cada dia surgem novas igrejas, novos grupos, novas agremiações eclesiásticas, todas sob a mesma bandeira Evangélica. Mas seriam  mesmo !
  Minha preocupação continua! como poderia provar que sou evangélico! Eu tentaria a seguinte resposta: Sou evangélico porque creio na velha mensagem do evangelho de Jesus Cristo, Sou evangélico porque entendo a mensagem do evangelho como libertadora e não opressora, como meio de graça e transformação das estruturas malignas da sociedade, sou evangélico por que creio nos fundamentosda fé cristã como necessários e vitais para minha existência.
   Com carteirinha ou sem ela, arrolado ou não em uma membresia, protestante ou não… o ser evangélico não se permite rotular, mas se afirma em sua essência, a essência do evangelho. Tenho aprendido que muitas vezes vamos além da essência, esquecemos nossas  raízes históricas, deturpamos  os fundamentos…
          Quando assim fazemos, deixamos de lado o Ser Evangélico