Existe no Brasil um considerável movimento de crescimento da igreja evangélica, isso é inegável. Mas em momento algum esse movimento deve ser considerado como um avivamento, quando isso acontece existem marcas que acompanham esse chamado “avivamento”. Uma simples olhada na história dos grandes avivamentos e veremos que eles sempre são acompanhados de alguns fatores comuns. O padrão dos avivamentos segue aquele primeiro de todos após Pentecostes e que está registrado no segundo capítulo do livro de Atos dos apóstolos cap 2: 41-47
Um genuíno avivamento é acompanhado dessas marcas, claras aqui no texto de Atos
- Crescimento numérico dos que aceitam a Cristo.
- Dedicação ao estudo da Palavra de Deus
- Celebração e oração
- Temor
- Sinais e maravilhas
- Unidade
- Serviço ao próximo e necessitados
- Reuniões familiares (células?)
- Simpatia do povo
- Crescimento natural
Em um movimento de crescimento de igreja apenas, e esse parece ser o caso do Brasil, algumas dessas marcas até aparecem, especialmente o crescimento numérico, mas elas estão descontinuadas e longe de atingir as demandas da nação. Na Inglaterra com Wesley, houve um evangelho integral atingindo todos os setores da sociedade, no Pais de Gales com Evan Roberts aqueceu a fé de uma nação inteira que vivia morta espiritualmente, no oeste da África trouxe uma devoção pela palavra de Deus pelo evangelismo e pelas disciplinas espirituais que são vividas até os dias de hoje como herança daquele mover.
No nosso caso brasileiro a situação é bem diferente e alguns males precisam ser sanados para que um verdadeiro e genuíno avivamento envolva a nossa nação. É claro que existem casos louváveis em várias e diferentes realidades e igrejas, mas de longe não representam o que se conhece como a Igreja Evangélica Brasileira ou o que podemos chamar de “Cultura Gospel” em nosso país, essa de fato é entristecedora. Cito abaixo o que percebo em uma rápida análise
Falta de unidade_ O individualismo, salvo exceções, é muito forte na cultura gospel brasileira. Ilhas de unidade e seriedade podem ser encontradas, mas de maneira geral cada um cuida de seu “império” e o discurso raso de unidade não sobrevive ao conselho de Paulo aos efésios “há um só Senhor, uma só fé, um só batismo” Ef 4:5. Nunca rebatizei um crente pois creio no valor do sacramento, já recebi vários vindos de outras confissões denominacionais, mas sempre tive o credo como sinal de unidade e o batismo como marco de uma fé uma vez confessada como sendo necessária. Recentemente e sem ser a 1ª vez, vi um antigo membro de minha congregação ser batizado em uma igreja “irmã” cujo pastor bate em minhas costas e me chama de querido, mesmo não reconhecendo o batismo por mim realizado. Onde está a unidade?
Independência_ Lamento por uma geração inteira de líderes da cultura gospel que caminham sós e sem a necessária e bíblica prestação de contas. Seguem sem conselhos e quando recebem, entendem como ingerência ou inveja pelo seu grande salto de “sucesso”. Sou líder de uma denominação de regime episcopal que possui nos bispos os pastores de pastores, que atuando apropriadamente são verdadeiros pais espirituais gerando uma relação em que a prestação de contas é necessária e a independência não faz parte. Alias a independência é a marca do maior desvio que jamais existiu na humanidade. Lideranças independentes produzem uma igreja dependente deles mesmos. O bom exemplo tem sido dado por aqueles, que mesmo em grupos denominacionais diferentes, se protegem prestando contas uns aos outros, existem bons casos no Brasil, mas ainda são exceções.
Teologia pobre em hermenêutica_ assusta a pobreza, para não dizer a ausência de uma boa hermenêutica nas mensagens de tantos púlpitos brasileiros. As vezes me surpreende a “criatividade” da mente de alguns pregadores que, sem a mínima base teológica, conquistaram grandes públicos com uma teologia “coach”, positivista e versada em uma prosperidade antibíblica onde o sucesso é a única opção e sofrer é para os fracos.
Proselitismo_ existe no Brasil um crescimento de algumas comunidades que na medida que crescem outra encolhem. Este é o crescimento por proselitismo, eu explico. É natural que cristãos mudem aqui e ali de comunidade. Seja porque não gostam mais do pastor ou porque simplesmente se decepcionaram com alguém em sua comunidade ou por outras razões menos importantes. Acho que tudo isso pode acontecer dentro da normalidade. O que não me parece normal e evangélico é o proselitismo intencional e isso acontece com frequência no Brasil. Líderes criam grupos, movimentos, programas e mesmo conferências “ecumênicas”, atraem pessoas de diferentes igrejas e depois, abrem igrejas a partir desses grupos e a migração acontece. Isso é triste de se ver, igrejas que enchem porque outras murcham.
Carreira x fé _ me chama a atenção o que eu chamo de desvio de função existente por pastores que ganha espaço no meio evangélico brasileiro. Eu fui chamado para equipar os santos, segundo Paulo escreveu aos efésios
E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado, Ef 4:11-12
Por outro lado, Jesus diz e Paulo repete (Mc 10:10, 1m Tm 5:18) que o obreiro é digno de seu salário. E por isso eu considero “desvio de função” porque eu recebo salário para preparar os santos e não deveria cobrar mais por esse mesmo trabalho. É grande o número de pastores que estão criando cursos e mentorias particulares e cobrando por isso se desviam daquilo para o que foram chamados pois são pagos por suas igrejas para equipar os santos. Mas se alguém que é membro da igreja de um desses pastores, que já paga um salário para que ele os prepare para a obra do ministério e que, desejando participar de um desses cursos terá que pagar a mais. Lamentavelmente são líderes midiáticos, que estão nas redes sociais cativando pessoas e trazendo-as para seus apriscos e planos de carreira.
Continuamos orando por um avivamento genuíno…. que venha e que venha breve!!