Paternidade Espiritual, Família Deus, Verdade e Equívocos, Benção e Maldição

Conceito

A Igreja de Jesus Cristo e o povo de Deus tem sido chamado ao longo dos séculos de “Família da fé” e, em meu entendimento, esse é de fato o melhor termo para ser usado quando nos referimos a esse conjunto orgânico de pessoas que o apóstolo Paulo chama também de corpo. O padrão “família” é encontrado em toda Bíblia desde o éden a família é valorizada e isso não significa, nem de perto, algo contra o seu caráter institucional, afina de contas institucionalizamos tudo pois vivemos debaixo de uma ordem humana mesmo sendo seres essencialmente espirituais.

Como falhos e ainda tendo as marcas do pecado em nós, entendemos que há verdades e equívocos em nosso meio e assim isso pode trazer tanto bençãos como maldição. Mas acima de tudo precisamos ser honestos em não usar passagens seletivas, hermeneuticamente mal trabalhados e exegeticamente fora de contextos para tentar justificar nossos pontos de vista.

Uma Breve observação em Mt 23:8-13…

Toda palavra fora do contexto é usada como pretexto, sabemos disso muito bem. Tenhamos o cuidado de observar com mais zêlo e honestidade o texto.

“Mas vocês não devem ser chamados ‘rabis’; um só é o mestre de vocês, e todos vocês são irmãos. A ninguém na terra chamem ‘pai’, porque vocês só têm um Pai, aquele que está nos céus. Tampouco vocês devem ser chamados ‘chefes’, porquanto vocês têm um só Chefe, o Cristo. O maior entre vocês deverá ser servo.Pois todo aquele que a si mesmo se exaltar será humilhado, e todo aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado. “Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês fecham o Reino dos céus diante dos homens! Vocês mesmos não entram, nem deixam entrar aqueles que gostariam de fazê-lo. Mt 23:8-13…

 Não é necessário muito para compreendermos que esse texto está dentro do duro discurso de Jesus contra os fariseus e o discurso segue firme “ai de vocês fariseus…”   segue até o fim do capítulo condenando a hipocrisia dos fariseus, abordando vários aspectos inclusive do dízimo etc.

Esses homens eram déspotas, dominadores e, pelas palavras do próprio Jesus, hipócritas, ou seja, viviam explorando o povo dominando sobre eles. Seria uma porção de extremo fundamentalismo escriturístico e desonestidade hermenêutica tentar enquadrar a todos que desenvolvem o conceito de Igreja – Família, que trabalham a paternidade espiritual como valor bíblico dentro desse texto. Afinal de contas, se agirmos com esse mesmo fundamentalismo hermenêutico não trataríamos nossos chefes como “chefes” nem nossos professores como “mestres” afinal de contas estariam todos dentro de toda “proibição”, além disso a expressão “A ninguém na terra chamem ‘painos proibiria de chamar assim nossos pais biológicos, afinal de contas, eles estão “na terra” portanto partindo da honestidade de intenção, que nos deve ser peculiar, vamos observar um pouco da história e das escrituras. Afinal de contas, como bons Anglicanos e herdeiros da mente teológica de Richard Hooker sempre devemos tratar as coisas à luz da RAZÃO-TRADIÇÃO-ESCRITURAS.

A Paternidade Espiritual: Um Chamado Bíblico e Prático

Paternidade espiritual refere-se ao relacionamento entre líderes espirituais e aqueles a quem eles guiam na fé, em uma dinâmica semelhante à de um pai e seu filho. Embora a Bíblia enfatize que Deus é o único Pai em sentido espiritual (Mateus 23:9), as Escrituras também evidenciam exemplos de líderes que atuam como “pais” na fé para outros crentes, fornecendo orientação, correção e encorajamento. Este conceito é central no Novo Testamento, particularmente no ministério de Paulo, que se referia a si mesmo como pai espiritual dos seus convertidos.

O Fundamento Bíblico da Paternidade Espiritual

A ideia de paternidade espiritual pode ser vista nas Escrituras de várias maneiras. Paulo, por exemplo, frequentemente se referia aos seus discípulos e convertidos como seus filhos na fé. Em 1 Coríntios 4:15, ele escreve: “Porque ainda que tivésseis dez mil instrutores em Cristo, não teríeis, contudo, muitos pais; pois eu pelo evangelho vos gerei em Jesus Cristo.” Este versículo reflete o papel de Paulo como aquele que, por meio do ensino e orientação, ajudou a formar a fé dos coríntios.

De maneira semelhante, em 1 Tessalonicenses 2:11, Paulo compara seu cuidado por eles ao de um pai que orienta seus filhos. Ele enfatiza que sua função era de encorajá-los a viver de maneira digna de Deus. O apóstolo expressa aqui a essência da paternidade espiritual: não é uma relação de poder ou domínio, mas de serviço, amor e cuidado para o crescimento espiritual de outros.

A paternidade espiritual do apóstolica

O Bispo Anglicano de Massachussets Philip Brooks fez essas considerações em seu famoso sermão “O Orgulho da Vida” (The Pride of Life) que veio a se tornar um livro.

Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo… 1 Jo 2:1-2 Muito terno e eminentemente joanino é a abertura deste parágrafo. “Meus filhinhos.”  Tekníon (a forma diminutiva de téknon, “criança”) – uma  criança pequena; infante (figurativamente) alguém profundamente amado (querido).

Isso sugere:

  • A paternidade espiritual do apóstolo

Por nove vezes nessa epístola João usa a expressão “filhinhos” e Paulo dirigiu exatamente as mesmas palavras aos cristãos gálatas que ele havia gerado espiritualmente

Meus filhinhos, por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja formado em vós; Eu bem quisera agora estar presente convosco, e mudar a minha voz; porque estou perplexo a vosso respeito. Gl 4:19

Ele se referiu com grande ternura e força ao mesmo relacionamento ao escrever aos coríntios

Não escrevo estas coisas para vos envergonhar; mas admoesto-vos como meus filhos amados. Porque ainda que tivésseis dez mil aios em Cristo, não teríeis, contudo, muitos pais; porque eu pelo evangelho vos gerei em Jesus Cristo.1 Co 4:14-15

Provavelmente, muitos daqueles a quem São João estava escrevendo eram seus filhos espirituais.

  • A afeição espiritual do apóstolo. O uso do diminutivo indica isso.
  • A autoridade espiritual do apóstolo. Sua relação paternal com eles, sua terna afeição por eles e sua idade venerável combinam-se para investir suas palavras com autoridade.

 A Paternidade Espiritual no Contexto da Igreja

Na prática, a paternidade espiritual dentro da igreja envolve pastores, líderes e mentores que ajudam novos crentes ou discípulos a crescerem na fé. Esses líderes, como pais espirituais, compartilham de sua experiência, sabedoria e discernimento, ajudando a guiar aqueles sob sua responsabilidade na vida cristã. Eles atuam como figuras de autoridade, mas sempre sob a perspectiva de serviço e cuidado amoroso, buscando formar o caráter de Cristo naqueles que acompanham.

No entanto, é essencial que a paternidade espiritual seja exercida com humildade. 1 Pedro 5:3 adverte os líderes a não exercerem autoridade “como dominadores”, mas a serem “exemplos para o rebanho”. O abuso de autoridade ou a criação de dependência excessiva dos “filhos espirituais” em relação aos seus “pais espirituais” pode gerar distorções e abusos espirituais.

O Papel da Paternidade Espiritual no Crescimento Pessoal

A paternidade espiritual proporciona um ambiente seguro para o crescimento pessoal. Assim como um pai biológico orienta, disciplina e encoraja seus filhos, o pai espiritual também tem a responsabilidade de fazer isso na vida daqueles a quem ele “gerou” espiritualmente e deve influenciar. O crescimento no caráter cristão, a compreensão das Escrituras e a prática dos dons espirituais são áreas em que um pai espiritual pode ajudar seus “filhos” a se desenvolverem. O discipulado “vida na Vida” e o investimento na vida pessoal do outro são marcas fortes da paternidade espiritual e ajuda os discípulos a discernirem a vontade de Deus e a superarem desafios pessoais e espirituais.

Os Desafios da Paternidade Espiritual

Apesar de sua importância, a paternidade espiritual traz consigo desafios. Como seres humanos errantes podemos falhar no propósito desse tão abençoador princípio bíblico. Um dos maiores riscos é a dependência excessiva. Um “filho espiritual” pode se tornar tão dependente de seu mentor que não desenvolve sua própria maturidade espiritual. Além disso, há o perigo do líder espiritual ultrapassar os limites da autoridade, gerando controle ou manipulação espiritual, o que é uma deturpação do papel de serviço que Cristo exemplificou.

Outro desafio é a disposição de assumir tal responsabilidade. O exemplo de Paulo, que dedicava tempo para escrever cartas, visitar e orar pelas igrejas e pelos crentes individuais, demonstra o nível de comprometimento esperado de um pai espiritual.

Paternidade Espiritual no Antigo Testamento

No Antigo Testamento, a ideia de paternidade espiritual é um tema presente direta e indiretamente, refletindo a relação de Deus com Israel e a função dos líderes espirituais na condução do povo. Embora o conceito de “paternidade espiritual” como é entendido no cristianismo hoje não seja explícito, várias passagens ilustram figuras que agem como pais espirituais, cuidando, ensinando e direcionando o povo de Deus.

Deus como Pai de Israel

A primeira e mais importante noção de paternidade no Antigo Testamento é a de Deus como Pai de Israel. O relacionamento entre Deus e o Seu povo é frequentemente descrito em termos de paternidade. Deuteronômio 32:6 refere-se a Deus como aquele que criou, sustentou e cuidou de Israel: “Não é ele o teu pai, o teu criador, que te fez e te estabeleceu?”. Neste sentido, Deus é o Pai espiritual de Israel, responsável por seu bem-estar, instrução e correção. Em Isaías 63:16, o profeta declara: “Tu, Senhor, és o nosso Pai, nosso Redentor; desde a antiguidade é o teu nome.” A paternidade divina é associada ao papel de redentor e protetor, ressaltando a proximidade de Deus com o Seu povo.

Moisés como Pai Espiritual de Israel

Moisés, uma das figuras mais importantes do Antigo Testamento, pode ser visto como um “pai espiritual” para o povo de Israel. Embora não seja chamado diretamente de “pai”, o seu papel de líder, intercessor e mediador entre Deus e o povo sugere uma função paternal. Em várias ocasiões, Moisés atua como um guia espiritual e moral, ensinando o povo a seguir os mandamentos de Deus, corrigindo-os quando erram, e intercedendo por eles diante de Deus, como um pai faria pelos seus filhos. Não seria estranho que no contexto de hoje moisés fosse chamado de Pai, de fato ele foi um Paizão.

Os Profetas e a Paternidade Espiritual

Os profetas do Antigo Testamento também podem ser considerados como pais espirituais, pois seu papel incluía não apenas pregar a palavra de Deus, mas também corrigir, exortar e guiar o povo de volta a uma relação correta com Deus. Profetas como Elias e Eliseu serviram como líderes espirituais, cuidando do bem-estar espiritual de Israel e instruindo o povo e os reis a seguirem o caminho de Deus. A relação de Elias com Eliseu pode ser vista como uma relação de paternidade espiritual. 2 Reis 2:12 narra que, quando Elias é arrebatado ao céu, Eliseu clama: “Meu pai, meu pai, carros de Israel e seus cavaleiros!”. Essa declaração não é uma referência à paternidade biológica, mas sim ao papel de Elias como mentor espiritual e líder de Eliseu e de Israel.

A Figura do Rei como Pai Espiritual

A figura do rei em Israel, especialmente na pessoa de Davi e seus descendentes, também carrega aspectos de paternidade espiritual. Os reis eram considerados não apenas governantes políticos, mas também líderes espirituais, responsáveis por guiar o povo na fidelidade a Deus. Em 2 Samuel 7:14, Deus promete a Davi: *”Eu serei para ele um pai, e ele será para mim um filho.”* Este versículo é parte da aliança davídica, na qual Deus promete ser Pai dos reis descendentes de Davi, o que por sua vez posiciona os reis como pais espirituais de Israel.

A paternidade espiritual no Antigo Testamento reflete-se principalmente na relação de Deus com o Seu povo, na liderança de outras figuras. Esses líderes, mesmo que não sejam explicitamente chamados de “pais”, desempenham papéis que correspondem ao conceito de paternidade espiritual, guiando, corrigindo, intercedendo e cuidando do povo de Deus. Essa é uma abordagem por princípios evitando assim que o fundamentalismo escriturístico nos bloqueie a mente

O Termo “Pai” na Eclesiologia Cristã: O Padre e o Bispo como Pai em Deus

Na eclesiologia cristã, o uso do termo “pai” para se referir aos líderes espirituais, como os padres e bispos, é uma prática de longa tradição. Essa designação não apenas reflete a autoridade espiritual desses líderes, mas também o papel pastoral e paternal que eles desempenham na vida dos fiéis, inspirando-se na paternidade divina de Deus. Este termo expressa um relacionamento de cuidado, ensino e orientação espiritual, onde o padre ou bispo atua como uma figura paterna em relação aos membros da comunidade cristã, ajudando-os em seu crescimento espiritual e na vida em Cristo.

A Paternidade Espiritual do Padre (Pai)

O termo padre, derivado do latim pater (“pai”), é utilizado na tradição cristã para designar os sacerdotes que lideram as igrejas, comunidades de fé. Esse título reflete a paternidade espiritual do padre em relação aos seus fiéis. Assim como um pai biológico cuida de seus filhos, o padre cuida das vidas daqueles que lhe são confiados, oferecendo orientação espiritual, sacramentos e apoio pastoral. A função do padre é essencialmente paternal, pois ele guia os membros de sua comunidade em sua caminhada de fé e vida cristã.

A paternidade espiritual do padre é exemplificada em sua responsabilidade pela administração dos sacramentos e pelo papel de intercessor diante de Deus. Na tradição católica ao realizar sacramentos como o batismo e a Eucaristia, o padre age em persona Christi, refletindo a paternidade de Deus. Segundo Edward Schillebeeckx, o padre, ao presidir os sacramentos, serve como uma imagem do “pai espiritual” que cuida do bem-estar espiritual de sua comunidade

O Bispo como Pai em Deus

A figura do bispo também carrega um forte significado de paternidade espiritual. Os bispos são vistos como pais espirituais das dioceses que eles governam, tendo a responsabilidade pastoral não apenas de guiar seus fiéis, mas também de supervisionar os padres sob sua jurisdição. A tradição eclesiástica ensina que o bispo, como sucessor dos apóstolos, possui uma autoridade espiritual que o coloca como pai de sua diocese, com o dever de ensinar, santificar e governar em nome de Cristo.

A teologia eclesiástica expressa essa paternidade em vários documentos conciliares e da patrística. O Concílio Vaticano II que promoveu significantes reformas na teologia e eclesiologia católica romana, por exemplo, enfatizou o papel do bispo como pastor e pai espiritual ao afirmar que ele deve “exercer a função de pai, professor e pastor, cuidando de sua diocese com diligência pastoral” (Vaticano II, Lumen Gentium, 27). Além disso, Inácio de Antióquia, em suas cartas, refere-se aos bispos como “pais espirituais” que guiam suas igrejas com amor paternal, refletindo o cuidado de Deus por Seu povo.

Como Anglicanos temos na nossa liturgia oficial o tratamento do Bispo como Pai em Deus em todas as versões do Livro de Oração Comum em qualquer país, província ou idioma, o Bispo é recebido como o Pai em Deus. No rito da confirmação por exemplo é dito

Ministro: Reverendíssimo Bispo, pai em Deus, apresentamos essas pessoas para confirmarem sua fé.  (Livro de Oração Comum Contemporâneo p 38 da Igreja Anglicana no Brasil)

O Significado Pastoral do Termo “Pai”

O uso do termo “pai” no cristianismo tem implicações pastorais profundas. O padre ou pastor  e o bispo são chamados a imitar a paternidade de Deus, que é caracterizada por amor, paciência, correção e cuidado. Na tradição católica, ortodoxa e anglicana, esse termo não apenas designa uma posição de autoridade, mas também evoca um chamado para liderar com humildade e serviço. O padre e o bispo são responsáveis pelo crescimento espiritual de sua comunidade, assim como um pai biológico é responsável pelo bem-estar de seus filhos.

Em suas responsabilidades, tanto o padre ou pastor quanto o bispo exercem sua paternidade espiritual na prática da direção espiritual, no aconselhamento pastoral e na administração dos sacramentos, ajudando os fiéis a crescerem em santidade e fé. Thomas Oden argumenta que a paternidade espiritual, quando exercida corretamente, “representa o modelo de Deus Pai para a comunidade cristã, servindo como um exemplo tangível de Sua liderança e cuidado” (Oden, Pastoral Theology: Essentials of Ministry, 1983, p. 98).

Equilíbrio e Abusos da Paternidade Espiritual

Embora a paternidade espiritual seja um chamado nobre e essencial dentro da Igreja, ela também traz desafios. O abuso dessa autoridade, muitas vezes associado a práticas de manipulação ou controle, pode corromper a verdadeira natureza desse relacionamento paternal. O abuso da paternidade espiritual distorce a função do padre, pastor ou do bispo, transformando-o de guia espiritual em uma figura autoritária.

O termo “pai” na eclesiologia cristã, quando aplicado ao padre, pastor e ao bispo, reflete uma rica tradição de cuidado espiritual, liderança pastoral e serviço sacramental. Tanto o padre quanto o bispo são chamados a ser reflexos da paternidade de Deus, guiando suas comunidades com amor, sabedoria e responsabilidade espiritual. No entanto, este papel deve ser exercido com humildade e serviço, lembrando sempre que a verdadeira paternidade espiritual vem de Deus, o único Pai supremo de todos os crentes.

O uso do termo “DOM”

Na igreja Anglicana no Brasil, logo que fui sagrado Bispo solicitei que o termo comumente utilizado na tradição católica “DOM”, não fosse utilizado entre nós e com a sagração dos demais bispos isso foi passado a eles, não faz parte de nossa cultura eclesiástica. E por quê?

Um breve estudo etimológico do termo “DOM” pode mostrar que ele não é apropriado ao papel dos bispos e de nenhum servo de Deus. É claro que eu entendo que é uma tradição, mas eu me refiro ao sentido do termo que não condiz com o papel dos Bispos, os Pais em Deus.

O termo “Dom” utilizado na eclesiologia tem origem no latim “dominus”, que significa “senhor” ou “mestre”. Esse título, utilizado nas tradições religiosas, reflete um sinal de respeito e autoridade espiritual. A palavra dominus, era aplicada tanto a líderes seculares quanto a figuras religiosas.

No latim clássico, DOM (dominus) era usado para se referir a alguém que possuía autoridade, geralmente um senhor de terras ou um patrão. Quando o cristianismo começou a se expandir pelo Império Romano, o termo foi adaptado para indicar a autoridade espiritual.

Os mais antigos vão lembrar de DOM Diego, fazendeiro, latifundiário que se transformava no zorro, defensor dos oprimidos. Dom Diego era essa figura de autoridade, cheio de servos cuidando de suas terras e plantações. Essa é a raiz da palavra.

A etimologia do termo “Dom” reflete a evolução de uma palavra latina secular que passou a ter um significado dentro do contexto eclesiástico. De suas raízes em dominus (senhor, aquele que tem domínio) no Império Romano, o termo foi adotado e transformado pela Igreja para designar seus líderes espirituais. Não me sentiria a vontade recebendo esse título e, sabendo de suas raízes, prefiro seguir a tradição bíblica-histórica e procurar me mostrar como PAI espiritual do rebanho de Deus.

Epílogo

É bastante óbvio que tudo que se faz no âmbito da igreja sofra distorções. Isso acontece desde o uso das Escrituras até as práticas litúrgicas, passando pelos papeis e posições na vida eclesiástica. Déspotas existem em todas as instancias da sociedade e onde houver um ser humano existe esse, e outros riscos.

Nosso papel como líderes é seguir o conselho bíblico que nos diz

Examinem todas as coisas, retenham o que é bom 1 Ts 5:21

No mais popular linguajar evitemos “jogar a criança e a bacia fora junto com a água suja”

Assim entendo que a igreja família é o melhor caminho e a paternidade espiritual um princípio bíblico que abençoa a comunidade da fé, além de ser uma tradição saudável que devemos herdar e valorizar.

Para tudo existem verdades e equívocos, bençãos e maldições, cabe a nos julgar e desenvolver na família a verdade e a benção e deixar que os equívocos e as maldições sejam evitados por nós, mas julgadas apenas por Deus.

Entendo o Pai espiritual que sugere cuidado e amor com o rebanho muito melhor do que tento entender o termo DOM como alguém que é senhor e domina as pessoas como quem domina e possui uma porção de terra, assim, prefiramos ficar como PAIS ESPIRITUAIS

Toda a glória a Deus

Referências Bibliográficas

– Schillebeeckx, Edward. O Sacerdócio Católico: Uma Nova Teologia Sacramental. São Paulo: Paulus, 1983.

– Oden, Thomas C. Pastoral Theology: Essentials of Ministry. Harper & Row, 1983.

– Concílio Vaticano II. Lumen Gentium. In: Documentos do Concílio Vaticano II. Paulus, 1965.

– Schökel, L. Alonso. Diccionario Bíblico Hebreo-Español. Estella: Verbo Divino, 1994.

– Schaefer, Konrad R. Salmos: Oração e Poesia. São Paulo: Loyola, 1997.

– Coogan, Michael. The Old Testament: A Historical and Literary Introduction to the Hebrew Scriptures. New York: Oxford University Press, 2011.

– Brooks, Phillips. The Pride of Life. Boston: Bible Hub, 1887. Acessado em [20.10.2024]. Available at https://biblehub.com.

O Uso de Bandeiras e outros adornos nas celebrações cristãs: Significado e impacto espiritual

O Uso de Bandeiras e outros adornos nas celebrações cristãs: Significado e impacto espiritual

Celebraremos com júbilo a tua vitória e em nome do nosso Deus hastearemos pendões;

satisfaça o Senhor a todos os teus votos. Sl 20:5

O uso de bandeiras nas celebrações é uma prática que vem crescendo nas igrejas cristãs ao redor do mundo, especialmente em contextos mais “carismáticos.” As bandeiras são utilizadas como instrumentos de adoração, expressando visualmente louvores e orações a Deus. Esse ato simbólico busca não apenas criar uma atmosfera espiritual, mas também trazer um novo nível de envolvimento físico e emocional na adoração. Existe o significado espiritual e tem suas raízes históricas.

Origem e Simbolismo das Bandeiras

As bandeiras, biblicamente, têm suas raízes em textos do Antigo Testamento, onde são mencionadas como símbolos de identidade e orientação. No livro de Números, por exemplo, as tribos de Israel se organizavam em torno de bandeiras ou estandartes, representando cada tribo e seu líder (Números 2:2).

O estandarte servia como um ponto de referência e união para o povo. Da mesma forma, em Salmos 20:5, há uma referência à elevação de bandeiras em celebração à vitória concedida por Deus: “5Saudaremos a tua vitória com gritos de alegria e ergueremos as nossas bandeiras em nome do nosso Deus. Que o Senhor atenda todos os teus pedidos!” Salmos 20:5.

Nos cultos contemporâneos, as bandeiras são frequentemente vistas como símbolos de vitória espiritual, proteção divina e presença de Deus. Algumas bandeiras podem ter cores e símbolos específicos que representam diferentes aspectos do caráter de Deus, como a realeza, a pureza e o fogo do Espírito Santo

O Uso de Bandeiras no Contexto de Adoração

Dentro dos cultos, as bandeiras são utilizadas como uma expressão física de adoração, permitindo que os participantes interajam de maneira mais corporal com a experiência espiritual. Este tipo de adoração é fundamentado na ideia de que o corpo pode ser usado como um instrumento para glorificar a Deus, como sugerido em Romanos 12:1, onde Paulo encoraja os cristãos a oferecerem seus corpos como sacrifício vivo.

Além disso, em contextos de adoração mais espontânea, onde a liberdade no Espírito Santo é fortemente incentivada, as bandeiras funcionam como uma forma de expressão criativa. O ato de erguer uma bandeira pode representar um gesto profético, como mencionado em Isaías 59:19: “Quando o inimigo vier como uma corrente de águas, o Espírito do Senhor arvorará contra ele a sua bandeira.”ACF

As bandeiras ajudam a criar um ambiente de adoração mais dinâmico e envolvente, facilitando a expressão do louvor em várias dimensões – visual, emocional e espiritual. As bandeiras são mais que um instrumento estético, mas um catalisador espiritual, muitas vezes associadas a momentos de intercessão e guerra espiritual. Assim como outros elementos na liturgia tradicional e histórica da igreja

É claro que o uso de bandeiras nos cultos religiosos não está isento de críticas. O que estaria? Alguns argumentam que a prática pode distrair as pessoas, desviando o foco do verdadeiro objetivo da celebração, que é a adoração a Deus. Também há preocupações de que a introdução de elementos visuais ou que possa gerar um culto mais centrado na estética do que na espiritualidade.

Além disso, em algumas tradições mais conservadoras, o uso de bandeiras é visto como uma inovação que não tem base nas práticas litúrgicas históricas da igreja, e é, portanto, considerado um elemento externo à adoração autêntica. O temor é que práticas assim possam ser interpretadas como uma forma de espetáculo, tirando o foco da palavra de Deus e da comunhão com o Espírito Santo.

De fato, tudo na celebração correrá esse risco e tudo depende de como se apresenta, de quem apresenta e, de quem observa e se beneficia dessas e de outras expressões litúrgicas.

A tradição liurgica mais elaborada da igreja desde os tempos medievais são repletas de adornos, de símbolos de cores que também podem distrair as pessoas, mas insisto, tudo depende de como se faz e como se observa.

O Impacto Espiritual e Emocional

Essas preocupações são menores quando comparadas aos benefícios espirituais e emocionais que a prática pode proporcionar. O uso de bandeiras pode trazer um sentimento de liberdade na adoração, permitindo que os fiéis se expressem de maneira criativa e íntima diante de Deus vivendo uma conexão mais profunda.

Essa conexão pode ser vista como uma forma de “batalha espiritual”, onde a bandeira funciona como um símbolo de vitória sobre forças espirituais opressoras, como Paulo menciona em Efésios 6:12, referindo-se à luta não contra carne e sangue, mas contra “os poderes das trevas”.

Embora haja debates quanto à sua adequação em diferentes contextos litúrgicos, seu impacto positivo é claramente sentido por muitas congregações ao redor do mundo. As bandeiras representam mais do que simples objetos decorativos; elas simbolizam aspectos espirituais profundos, como vitória, proteção e a presença de Deus. Quando usadas de maneira adequada, com foco no propósito de glorificar a Deus, as bandeiras podem enriquecer a experiência de adoração, criando um ambiente mais envolvente e emocionalmente impactante.

Outros Símbolos históricos da liturgia e seu significado

O turíbulo, aquele instrumento que queima incenso nas igrejas têm seu significado histórico. O uso de incenso é amplamente mencionado na Bíblia, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. No Antigo Testamento, o incenso era oferecido no Tabernáculo e, posteriormente, no Templo de Jerusalém como parte dos sacrifícios diários e das orações do povo de Deus. Em Êxodo 30:1-8, Deus ordena a construção de um altar de incenso, onde o incenso deveria ser queimado continuamente como parte da adoração. O incenso, portanto, representava a oração e a adoração subindo até Deus.

Ainda na inauguração do templo de Salomão houve uma intensa presença de deus que uma nuvem de adoração tomou conta do lugar (2 Cr 5) e a Presença de deus foi intensa. Hoje, nas igrejas mais contemporâneas se usa máquinas de fumaça e isso é a representação moderna da simbologia da presença de Deus.

No Novo Testamento, o livro do Apocalipse oferece uma interpretação simbólica do incenso, conectando-o diretamente às orações dos santos: “E veio outro anjo, e pôs-se junto ao altar, tendo um turíbulo de ouro; e foi-lhe dado muito incenso para o pôr com as orações de todos os santos sobre o altar de ouro, que está diante do trono” (Apocalipse 8:3). Assim, o incenso no turíbulo é frequentemente visto como uma representação física das orações da congregação subindo ao céu, unindo-se à intercessão celestial.

Como afirma o apóstolo Paulo… “Tudo, porém, seja feito com decência e ordem”1 Co 14:40

Saude Integral

Saude Integral

O cuidado com o corpo é um aspecto valorizado nas Escrituras, que destacam a importância do equilíbrio entre o bem-estar físico, mental e espiritual. A Bíblia enfatiza que o corpo humano é um templo do Espírito Santo (1 Coríntios 6:19-20), e, como tal, deve ser tratado com respeito e cuidado.

“Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus.”

Essa passagem sugere que o cristão deve manter um estilo de vida saudável não apenas para seu próprio benefício, mas como uma forma de glorificar a Deus. O corpo, segundo as Escrituras, não pertence apenas ao indivíduo, mas a Deus, o que confere uma responsabilidade ainda maior sobre o seu cuidado.

A moderação no comer e beber também é um valor promovido na vida cristã. A moderação é encorajada, alertando contra excessos:

“Não estejas entre os beberrões de vinho, nem entre os comilões de carne. Porque o beberrão e o comilão acabarão na pobreza, e a sonolência os faz vestir-se de trapos.” Provérbios 23:20-21

Embora a ênfase no cristianismo seja a vida espiritual, o bem-estar físico é um componente que contribui para a plenitude da vida. Um corpo saudável permite ao cristão servir a Deus de forma mais eficiente, seja no trabalho, na família ou na comunidade. A saúde física, no contexto da vida cristã, não deve ser vista de forma isolada, mas em equilíbrio com a saúde espiritual.

“Pois o exercício físico para pouco é proveitoso, mas a piedade para tudo é proveitosa, porque tem a promessa da vida que agora é, e da que há de ser.” 1 Timóteo 4:8:

Aqui, Paulo reconhece o valor do exercício físico, mas enfatiza que a piedade e a vida espiritual têm maior importância. O cuidado com o corpo é uma responsabilidade cristã que contribui para uma vida equilibrada e plena.

Os Maus Entendidos, Os Déspotas e a Cultura da Honra

Os Maus Entendidos, Os Déspotas e a Cultura da Honra

Eu vou começar a discorrer pelo Mal-entendido, é importante que assim seja porque abre as portas para o melhor entendimento dessa questão. Existe um mau entendido que procura confundir liderança com manipulação e muitos se aproveitam disso para generalizar. Mas existem lideranças saudáveis e existem lideranças despóticas. Aqui vamos procurar esclarecer isso um pouco.

É claro que nem eu e nem nenhum líder de juízo e guiado por Deus desejará ter um exército de “zumbis” nos seguindo. Não preciso dizer as pessoas que estão sob a minha liderança que não me cultuem, se eles(as) de fato estiverem sob a minha liderança já sabem disso há muito tempo. Mas temos que considerar alguns fatores.

O acentuado espírito de orfandade que existe e cresce em nossos dias causa um desconforto em alguns quando percebem alguém com uma paternidade bem resolvida, honrar seus líderes em diferentes situações. Comumente um órfão irá considerar alguém que desenvolve a prática da honra como um(a) bajulador(a), mas isso se explica facilmente pelas características de uma pessoa com marcas de orfandade. Algumas delas são: Sempre desejam ser os protagonistas, dificilmente prestam contas, quase que nunca conseguem elogiar publicamente um líder seu, tem falta de identidade como filho de Deus, Insegurança e medo constante, Isolamento e independência extrema, dificuldade em confiar nas pessoas e em Deus, rejeição e medo de rejeição, perfeccionismo e desejo de aprovação, ciúme, inveja e competição, Sentimento de abandono. Essas são algumas delas.

Paulo aparece nas páginas do Novo Testamento como alguém bem resolvido e não evita dar instruções aos seus seguidores que sigam a ele, como exemplo. “sejam meus imitadores como também eu sou de Cristo”1 Co 1:11 e depois ele afirma :De fato, vocês se tornaram nossos imitadores e do Senhor, pois, apesar de muito sofrimento, receberam a palavra com alegria que vem do Espírito Santo. 1 ts 1:6,  e mais uma vez ele exorta os filipenses 3: 15. Todos nós que alcançamos a maturidade devemos ver as coisas dessa forma, e se em algum aspecto vocês pensam de modo diferente, isso também Deus lhes esclarecerá.

A Honra é uma marca do povo de Deus, mas as vezes a falsa modéstia, e o espírito desse mundo distorce isso e as pessoas se esuivam até de recebe a honra devida, alegando humildade.

Portanto, dai a cada um o que deveis: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra. Rm 13:7

A Bíblia contém várias passagens que destacam a importância de honrar líderes espirituais, incluindo pastores, bispos, presbíteros e outros que servem na liderança da igreja. A honra a líderes espirituais não se trata apenas de respeito verbal, mas envolve atitudes de reconhecimento, apoio material e oração por eles.

A Bíblia nos ensina sobre a importância de honrar os líderes espirituais

Se a Bíblia nos ensina a fazer isso, não devemos desviar seu propósito e assumir uma postura defensiva como quem se protege de receber honra. Se você é um(a) líder, deixa eu te dizer algo, se você for um líder de verdade, terá liderados de verdade e assim eles, as vezes antes de você, conhecem as suas limitações e irão lhe ajudar nessa jornada da liderança. Conheço casos em que os liderados se anteciparam e cuidaram de seu líder. Eu mesmo, há alguns anos me vi em um estado de quase “burnout” e minha equipe identificou e cuidou de mim. Eles sabem que você não é super-homem ou mulher maravilha. Se não sabem, é porque não se permitem ser liderados por você. E aí amigo(a), você nada pode fazer.

1.1 Timóteo 5:17-18

2. Hebreus 13:17

3.1 Tessalonicenses 5:12-13.

4. 1 Coríntios 9:11-14

5. Efésios 4:11-12

Déspotas, esses existem

Sabemos que existem líderes que são déspotas, e o comportamento despótico são atitudes e ações de indivíduos que exercem o poder de maneira autoritária, tirânica e opressiva, sem levar em consideração os direitos, liberdades ou necessidades daqueles sobre os quais exercem tal poder.

Características do comportamento despótico

1. Autoritarismo: Indivíduos despóticos tendem a impor suas vontades.

2. Controle total: Déspotas buscam controlar todos os aspectos da vida de outros indivíduos,

3. Desrespeito pelos direitos alheios: Uma característica fundamental é a violação dos direitos e liberdades individuais.

4. Falta de empatia: Mostram pouco ou nenhum interesse pelas necessidades e sentimentos dos outros.

5. Punição e intimidação: Em vez de promover um ambiente de diálogo e cooperação, os indivíduos despóticos recorrem à intimidação

6. Culto à personalidade: Líderes despóticos tentam criar um culto à sua própria personalidade, onde se promovem como figuras infalíveis, heroicas ou indispensáveis.

Na Bíblia, encontramos diversos exemplos de líderes que exibiram comportamentos despóticos.

Faraó do Egito

Nabucodonosor (Rei da Babilônia)

Acabe (Rei de Israel)

Saul (Rei de Israel)

Os déspotas na Bíblia são exemplos de líderes que abusaram de seu poder, tratando os outros com crueldade e desprezo pela justiça. A Bíblia ensina que a verdadeira liderança deve ser marcada pela justiça, humildade e obediência à vontade de Deus, e que os líderes que falham em seguir esses princípios enfrentam severas consequências.

O que significa honrar os líderes?

À luz das Escrituras, vai além de palavras de respeito e inclui ações práticas que demonstrem apreciação por seu trabalho e dedicação. Isso pode se manifestar de várias maneiras:

Respeito e obediência: Ouvir e seguir as orientações espirituais dos pastores, reconhecendo sua autoridade dada por Deus para liderar a igreja.

Oração: Orar regularmente por seus pastores, pedindo a Deus sabedoria, proteção e força para que eles possam continuar a conduzir a igreja de acordo com a vontade divina.

Apoio financeiro: Ajudar os pastores a sustentar-se financeiramente, para que possam dedicar-se integralmente ao ministério sem preocupações materiais, conforme ensinado em passagens como 1 Timóteo 5:17-18 e 1 Coríntios 9:14.

Encorajamento: Oferecer palavras de incentivo e apreciação pelo trabalho árduo que realizam, mostrando gratidão pelo tempo e esforço investidos na edificação espiritual da igreja.

Facilitar seu trabalho: Viver de maneira que os pastores possam liderar com alegria, cooperando com eles nas tarefas da igreja, em vez de causar-lhes dificuldades desnecessárias.

O trabalho dos pastores é cuidar do bem-estar espiritual da congregação, e a igreja, por sua vez, deve mostrar gratidão e reconhecimento pelo sacrifício e dedicação desses líderes. Ao honrar os pastores, os cristãos também honram a Deus, que os colocou em posição de liderança.

Miguel Uchoa

Bispo Anglicano

Primaz do Brasil

Diocesano de recife

Deão da PAES @somospaes

Adoração Autentica

Adoração Autentica

Fui convidado para ministrar sobre esse assunto “Autêntica Adoração”. Provavelmente me chamaram porque souberam de uma ministração que fiz nos EUA sobre Deus – Igreja – Criatividade. Aceitei o desafio, e digo desafio porque sempre admirei a forma e a autenticidade da adoração nas igrejas africanas. Como anglicanos, estamos sempre interessados em aprender um pouco mais, ao chegar ali e interagir com os líderes, compreendi o porquê desse assunto ser necessário e de terem me chamado para esse momento.

Posso começar a compartilhar um pouco sobre o que não é adoração autêntica e listar algumas das marcas dessa negação.

  1. Adoração autêntica não é uma tradição

Faz parte da nossa tradição porque a adoração autêntica remonta ao Antigo Testamento (Salmo 150) nos fala sobre isso e dá detalhes sobre uma verdadeira adoração que muitos negam, mesmo estando explicito nas escrituras.

Passa pelo tempo apostólico e a igreja primitiva (Atos 2:42-46) mostra como a igreja adora a Jesus na simplicidade da sua vida comunitária, chega à idade média e começa a se perder na sua essência e crescer na formalidade e vem a se tornar um imenso conjunto de ritos que perde o sentido, a essência e a autenticidade do cristianismo primitivo. Chega era moderna com a reforma protestante e, para nós, Anglicanos, com Thomas Cramer reestruturando o culto público e a adoração, trazendo a Bíblia de volta para o centro da adoração e o uso no vernáculo nas celebrações. Cremer, uma figura central na adoração da Reforma, tinha uma visão profunda e inovadora para sua época sobre a adoração.

Ele moldou a prática litúrgica da Igreja Anglicana e fez algo muito impactante para sua época. Moldou um livro de Oração Comum, onde a Bíblia e a pregação seriam o centro. Para um povo confuso com as frequentes mudanças de sé, teologia e doutrina, associado ao analfabetismo do povo, inclusive de parte do clero. A Bíblia deveria ser lida nas celebrações em m conjunto de textos que ao longo do tempo completaria toda a leitura da escritura publicamente. Isso foi revolucionário para a época

Ele compilou 12 sermões, (seria o pioneirismo em pregação em séries?) e publicou o 1º livro das homilias. Texto ortodoxo biblicamente e que abrangeu vários assuntos e ainda hoje são necessários e atuais.

Como m verdadeiro “arquiteto” da Reforma Inglesa, Cranmer procurou extirpar da igreja todo o que era chamado de “romanismo” e que resultou em várias mudanças significativas na liturgia e na prática religiosa da Igreja da Inglaterra. Algumas das principais supressões e alterações feitas na liturgia pela reforma inglesa incluem:

  • Supressão da Missa Católica Romana: A missa tradicional da Igreja Católica foi substituída por serviços de culto em inglês, em vez de latim, e a ênfase foi deslocada da Eucaristia como sacrifício para a comunhão como um ato de lembrança.
  • Eliminação de Rituais e Cerimônias: Muitos rituais considerados excessivamente católicos ou não bíblicos foram eliminados. Isso incluiu a remoção de práticas como a adoração de relíquias, a veneração de santos a utilização de imagens religiosas e outros símbolos que não refletiam a fé bíblica.
  • Supressão do uso de vestimentas medievais: O uso da estola foi abolido junto com muitas outras vestimentas e adornos que foram proibidos e considerados “supersticiosidade latina” por exemplo as alvas, túnicas, sinos de mão, água santa entre outras estavam entre as que deveriam ser destruídas. Como exemplo as estolas foram proibidas por cerca de 300 anos após a reforma voltando ao uso após o movimento tractariano conhecido como “movimento de Oxford” liderado por John Newman que depois se tornou cardeal romano.
  • Mudanças nos Sacramentos: A Igreja Anglicana reconheceu e se mantem até hoje reconhecendo apenas dois sacramentos (Batismo e Eucaristia) como sendo instituídos por Cristo, em contraste com os sete sacramentos reconhecidos pela Igreja Romana.
  • Revisão do Livro de Oração Comum: O Livro de Oração Comum, que foi introduzido em 1549 e revisado em 1552, estabeleceu uma nova liturgia que refletia as crenças reformadas. Ele incluía orações, leituras bíblicas e a celebração da Eucaristia em inglês.
  • Redução do Clero e da Hierarquia: A Reforma Anglicana também levou a uma diminuição do poder e da influência do clero, com uma ênfase maior na leitura da Bíblia e na pregação.

Essas mudanças refletiram uma tentativa de reformar a Igreja da Inglaterra, distanciando-a das práticas católicas romanas e buscando uma forma de cristianismo que fosse mais alinhada com as ideias da Reforma Protestante. E tudo isso tinha o objetivo de trazer a igreja de volta para a Autêntica Adoração.

Mas a genialidade revolucionária e pioneira de Cranmer de fato não intencionava congelar as formas de adoração, ele trabalhou no seu tempo, em um contexto inglês e diante das necessidades de uma igreja que praticamente se limitava, em seu tempo, às ilhas Britânicas. O conceito de Anglicanismo é bem mais tardio (Século XIX) e ele sequer conheceu isso, mesmo sendo um homem de visão e além de seu tempo.

Por essa razão é importante trazer à memória algo que as vezes por conveniência ou mero desconhecimento as pessoas tendem a esquecer a razão pela qual Cranmer reformou o culto. Ele supervisionou a publicação dos 39 artigos de religião que é uma espécie de “métrica” para que a igreja não perca seu rumo. Vejamos então o que diz o artigo 34º 

34. DAS TRADIÇÕES DA IGREJA. Não é necessário que as Tradições e Cerimônias sejam em todos os lugares uma, ou totalmente semelhantes; pois em todos os tempos, elas foram diversas, e podem ser mudadas de acordo com a diversidade de países, tempos e maneiras dos homens, de modo que nada seja ordenado contra a Palavra de Deus….Toda Igreja particular ou nacional tem autoridade para ordenar, mudar e abolir Cerimônias ou Ritos da Igreja ordenados apenas pela autoridade do homem, de modo que todas as coisas sejam feitas para edificação

É muito importante definir bem o que consideramos a tradição e o tradicionalismo. Eis algumas sugestões.

Tradicionalismo e tradição são conceitos relacionados, mas têm significados e implicações distintas, particularmente em contextos culturais, sociais e religiosos.

Tradição refere-se aos costumes, práticas e crenças que são transmitidos de geração em geração. Representa a continuidade da cultura, valores e rituais dentro de uma comunidade ou sociedade. As tradições não são estáticas e podem evoluir com o tempo, mas estão enraizadas em práticas históricas que proporcionam um senso de identidade e pertencimento. Em essência, tradição é sobre as práticas compartilhadas e a sabedoria do passado que são mantidas no presente.

O tradicionalismo, por outro lado, é uma ideologia ou visão de mundo que enfatiza a adesão estrita aos valores e práticas tradicionais, muitas vezes resistindo à mudança ou modernização. Os tradicionalistas muitas vezes veem seus costumes como essenciais para a integridade e o tecido moral da sociedade e podem se opor a inovações que possam alterar essas tradições de longa data. Em alguns casos, o tradicionalismo está associado ao conservadorismo, onde o objetivo é preservar as estruturas existentes e resistir às influências progressistas ou modernas.

Resumindo, tradição é o conteúdo – costumes, crenças e práticas – transmitidos de geração em geração, enquanto o tradicionalismo é a mentalidade ou ideologia que busca ativamente preservar e proteger essas tradições, às vezes em oposição à mudança ou à modernidade.

Dito isso, é importante que tenhamos em mente as bases da formação da doutrina, liturgia, teologia e ethos de nossa igreja para que não ocorramos no equívoco de querer padronizar tendo como base a prática do século XVI que a nossa reforma decidiu reconstruir.

Assim, é importante reafirmar que não adoramos a Deus porque é uma tradição, mas porque nossos corações estão ansiosos para fazê-lo. Não podemos sobreviver sem adorar nosso Senhor e Deus. Nossa alma é sede de Deus como afirma o salmista

Como o cervo anseia por riachos de água, minha alma suspira ((anseio) por você, meu Deus. Minha alma tem sede de Deus, Salmo 42:1-2

Esta é a razão pela qual adoramos a Deus, não porque nossa família faz, nossos amigos fazem, nossa tradição faz. Mas porque há um vazio aqui no meu coração que precisa ser preenchido.

Quando a adoração é feita sem convicção, apenas para se adequar às expectativas culturais, familiares, ou a uma tradição ou crença pessoal, fatalmente faltará autenticidade e terminará por ser repleta de:

  • Ritual sem significado

Envolver-se em rituais ou práticas religiosas mecanicamente, sem engajamento ou compreensão genuínas, pode ser visto como inautêntico. A adoração precisa vir de um lugar de conexão pessoal e reverência, em vez de apenas seguir regras ou ritos (prática judaica).

  • Participação superficial.

Quando a adoração é mais sobre aparências ou status social do que devoção sincera, pode faltar autenticidade. Isso inclui participar da adoração para obter aprovação ou para exibição, em vez de ser devido a uma crença verdadeira ou respeito.

  • Desempenho e foco egocêntrico

Envolver-se em adoração, enquanto vivemos de uma maneira que contradiz os princípios de nossa fé pode ser visto como inautêntico. Muitas vezes, espera-se que a verdadeira adoração se alinhe com as ações e valores de alguém, tanto dentro quanto fora das práticas religiosas.

A adoração focada principalmente no ganho pessoal, como buscar poder pessoal, em vez de honrar a Deus ou servir aos outros, pode ser considerada inautêntica. Poderíamos acrescentar muito mais sobre o que não é adoração autêntica, mas isso é o suficiente para melhor entendimento. Prefiro refletir sobre o que é uma “Adoração Autêntica”.

Então, vamos começar aqui perguntando quais são as marcas de uma adoração autêntica?

Podemos começar a tentar definir o que é adoração? Porque para adorar autenticamente precisamos entender o que é Adoração. Por definição, é o ato de reverenciar e honrar algo ou alguém que consideramos sagrado, é o nosso relacionamento com Deus.

A “adoração autêntica” é fundamental porque nos ajuda a nos conectar com Deus em um nível mais profundo e significativo, moldando nosso caráter e transformando nossas vidas. Pode incluir cantar, mas é muito mais do que isso, porque é a intenção do nosso coração. Como algo que vem do coração, não apenas dos lábios, é a nossa intenção e sinceridade que conta.

A adoração é um ato de amor e devoção. Paulo diz aos romanos.

Se você declarar com sua boca: “Jesus é o Senhor”, e crer em seu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, você será salvo. Pois é com o seu coração que você crê e é justificado, e é com a sua boca que você professa a sua fé e é salvo. Romanos 10,9-10

Mas muito antes dele, o profeta diz…

O Senhor diz: “Este povo se aproxima de mim com a boca e me honra com os lábios, mas o coração está longe de mim. Sua adoração por mim é composta apenas de regras ensinadas por homens. Is 29:13

Vamos explorar um pouco do que um culto autêntico deve ter

  • Sinceridade

Como a adoração autêntica vem do coração. Há um abismo entre seguir apenas um ritual por obrigação e adorar a Deus com uma verdadeira devoção. Um bom exemplo da Bíblia de uma adoração inautêntica é como os fariseus adoravam. Eles faziam isso publicamente em praças, e para que todos ouvissem, mas seu coração estava longe de Deus, faziam isso por desempenho, performance não por causa de sua devoção. Já o publicano, sem rituais ou processos burocráticos, derrama seu coração em uma devoção sincera.

Dois homens subiram ao templo para orar, um fariseu e o outro cobrador de impostos. O fariseu ficou sozinho e orou: ‘Deus, eu te agradeço porque não sou como as outras pessoas — ladrões, malfeitores, adúlteros — nem mesmo como este cobrador de impostos. Jejuo duas vezes por semana e dou um décimo de tudo o que recebo. Mas o cobrador de impostos ficou à distância. Ele nem sequer olhava para o céu, mas batia no peito e dizia: ‘Deus, tem misericórdia de mim, pecador. “Eu lhes digo que este, e não o outro, voltou para casa justificado diante de Deus. Pois todos os que se exaltam serão humilhados, e os que se humilham serão exaltados.” Lc 18,10-14

Todos nós somos pessoas sábias para aprender a lição, uma adoração autêntica precisa ser sincera. Quando você colocar sua cabeça no travesseiro hoje esteja ciente e justificado porque você adora Jesus como deve ser feito, com todo o seu coração e mente, com suas vísceras em sinal de que vem de seu mais íntimo interior.

  • Reverência e humildade

Para isso, é necessário reconhecer plenamente a grandeza de Deus! A Bíblia nos ensina que um coração humilde é o que se aproxima do Senhor. Quanto mais humildade, mais perto estou de Deus. 

Abre os meus lábios, Senhor, e a minha boca anunciará o teu louvor. Você não se deleita no sacrifício, ou eu o traria; você não tem prazer em holocaustos. Meu sacrifício, ó Deus, é “um espírito quebrantado; um coração quebrantado e contrito que você, Deus, não desprezará. Salmos 51:15-17

Preste atenção a cada parte deste versículo. 1º ele declara sua reverência quando reconhece a grandeza do Senhor, isso nos leva à reverência: “Você não se deleita no sacrifício, ou eu o traria, 2º Ele mostra que conhece o coração de Deus. você não tem prazer em holocaustos. Em seguida, 3º e mais importante, ele mostra qual é o seu ato de adoração, ó Deus, Meu sacrifício é “um espírito quebrantado; um coração quebrantado e contrito que você, Deus, não desprezará

Isso não é lindo? É maravilhoso quando entendemos o que é um coração sincero, reverente e humilde para adorá-Lo. Então mantenha-se justificado com um coração humilde e reverente busque e adore o Senhor de uma forma autêntica

  • Transparência e confiança

Sejamos abertos e honestos com seu Deus pai, expressando verdadeiramente nossas alegrias, dúvidas e frustrações. A adoração é um ato de relacionamento, não de religiosidade. Como ousaríamos não ser transparentes com o Senhor? Isso é insanidade, pois ele sabe tudo, conhece nossos corações, nossos pensamentos, como nos comportamos.

Nada em toda a criação está oculto à vista de Deus. Tudo é descoberto e exposto diante dos olhos daquele a quem devemos prestar contas. Hebreus 4:13

Isso é básico, talvez o primeiro passo para entender o que é uma adoração autêntica. Você não precisa mudar seu tom de voz, não precisa usar um vocabulário formal nem gestos pré-estabelecidos, as pessoas às vezes quando começam a falar com Deus, mudam isso e torna-se formais, como se o Pai se incomodasse com seu vocabulário ou tom de voz.

Entenda isso, você está no colo de seu Pai, você pode confiar Nele, Ele te ama, Ele quer ouvir sua voz real, seus dilemas reais. Quando você adora a Deus, quando fala com ele, quando O louva, seja o mais transparente possível e confie nele que ele vai ouvi-lo e lidar com você.

Você precisa entender isso.

Ser transparente é deixar os olhos de Deus entrarem para ver e tirar todo o mal que há em nós.

Nossa mente e coração são onde nossas ações nascem. Eles são a fábrica do nosso comportamento. Os olhos de Deus são capazes de penetrar e transformar, mas para isso é necessário ser transparente e confiável. Ritos e cerimonias vazias não colaboram com isso.

Agora, estou chegando à segunda parte de meu raciocínio. Como já sabemos o que é uma adoração autêntica, precisamos saber quais são as barreiras para uma adoração autêntica. Uma das maiores barreiras para a adoração autêntica são estas

BARREIRAS À AUTÊNTICA ADORAÇÃO

  • Tradicionalismo que bloqueia a criatividade

Quando nossas práticas se tornam meros hábitos sem sentido.

A tradição é a fé viva daqueles que morreram, o tradicionalismo é a fé morta daqueles que estão vivos.

Isso é muito divino porque Deus é um Deus criativo, certo? Ele nos deu todas as habilidades para sermos criativos e sermos abençoados por sua mente e propósitos criativos. Acho que o grande problema disso é sobre nós.

Temos limitado Deus tentando colocá-lo em uma caixa que nunca caberia Nele. Não sei exatamente por que fazemos isso, mas para ser sincero, acho isso um problema. A Igreja no século 21, uma sociedade em metamorfose e uma igreja estancada no século XVI, isso me parece irracional.

Precisamos mudar, o mundo muda, as pessoas mudam, as artes mudam, a sociedade muda, mas parece que algumas pessoas querem que a igreja seja a mesma. Tenho experimentado um bom número de mudanças em minha vida e ministério. Minha formação me permite pensar um pouco fora da caixa

Sou um homem do mar, cresci pescando, surfando, remando, minha tribo sempre foi aquela que não se encaixava exatamente no que as pessoas chamariam de “Igreja”, eu adorava rock, me vestia diferente. Desde que me recordo, nunca consegui caber em uma caixa apenas.

Quando me tornei cristão, procurei pessoas com quem pudesse me identificar. Então, passei um tempo com o “Jesus People” no Brasil “Meninos de Deus”. Porque eles falavam meu vocabulário, meu jeito e falavam de Jesus.

Como pastor, tento ser o mais criativo possível. Temos um ditado em nossa igreja que diz assim:

“Um novo tempo, o evangelho de sempre”

Para ser criativo, você não precisa fazer o mesmo que Cranmer fez, mas fazer o que ele faria hoje. Não temos nenhum problema em mudar e inovar nada, desde que mantenhamos a mensagem do evangelho.

Há um livro de D.A. Carson chamado “louvor” e um capítulo foi escrito por um pastor anglicano Mark Ashton, onde ele tenta repensar o que Tomas Cranmer pretendia quando construiu o LOC. E mesmo sendo um homem da tradição ele procurou mostrar a necessidade de adaptação das realidades. Ele diz isso

“nunca foi o desejo de Tomas Cranmer congelar a liturgia anglicana por séculos para acabar perdendo sua relevância cultural e reintroduzir a obscuridade da igreja, aspecto que ele trabalhou duro para remover

Usar a criatividade é uma maneira de trazer o frescor de Deus para nós. Visitei muitos lugares e igrejas em diferentes partes do mundo. Mas eu ouvi, um dia de alguém ensinando sobre criatividade dizendo que “A ansiedade inibe a criatividade”, ele estava tentando ensinar sobre a espontaneidade que devemos buscar quando ministramos a Deus e ao povo de Deus.

Mentes criativas não são como um botão que você clica e funciona, precisa trabalhar. Exercite-se porque seu cérebro é seletivo e precisa ser treinado, quando você renova sua mente, você capta novas ideias

A criatividade nos ajuda a evitar o óbvio e você pode usá-la em sua música, artes, pintura e sermões. As pessoas ficam entediadas quando você diz o óbvio. Se eu puder lhe dar um conselho sobre isso será esse: Fuja do óbvio, surpreenda sua congregação com adoração autêntica

  • Quando a inovação não é um valor

Aquele que estava sentado no trono disse: “Estou fazendo novas todas as coisas!” Então ele disse: “Escreva isso, pois essas palavras são confiáveis e verdadeiras”. Ap 21, 5


Eu vejo isso como fundamental. A criatividade nasce como fruto de um ambiente onde é cultivada. Quem valoriza a inovação não elogia apenas o que está feito, mas as novas formas de fazê-lo novamente e assim,  estão dispostos a arriscar, ouvindo o novo e olhando para o que ainda não existe.

Eu posso dar um exemplo, costumo dizer às pessoas que somos anglicanos, mas não somos britânicos, com todo o respeito aos nossos irmãos e irmãs das ilhas. Não precisamos voltar ao século da reforma para adorar a Deus como eles adoraram. Estamos no Sul Global, temos sangue quente.

  • Se há insegurança para ver o que os outros estão fazendo

Portanto, encorajem-se uns aos outros e edifiquem-se uns aos outros, assim como de fato vocês estão fazendo. 1 Ts 5:11

Uma coisa que limita a criatividade é limitar-se ao que já foi feito. Dê uma volta, veja o que as pessoas estão fazendo, veja se é aplicável à sua realidade e adapte.  Lembre-se de que o que também bloqueia a criatividade é sempre copiar e colar. Em muitos rincões anglicanos, o que se tem feito é “Control C , Control V” do século XVI.

Existe muita coisa nova e muita coisa boa acontecendo na Igreja deste século e em todo canto. Da mesma forma, não copiamos tudo, de lugar algum, sem propósito. Deus te me dado o privilégio de conhecer o mundo anglicano e o mundo cristão em diferentes nações. Sempre tenho comigo no meu bloco de notas um arquivo chamado “dicas de viagem” quem vê pode pensar que se trata de pontos turísticos, lugares a serem visitados…mas não, são anotações do que vejo e procuro entender se é aplicável, se cumpre o propósito e se sim, aplicamos e adaptamos a nossa realidade. São mais de 30 anos fazendo isso e o resultado muitos sabem.

Quem tem temor de copiar o que é bom, terá dificuldades de experimentar os novos sabores

  • Quando não há visão

Onde não há visão, o povo perece PV 29:18

Aprendi que o sobrenatural não é apenas sobre cura e milagres, mas sobre uma visão ampla e apostólica. Os lugares mais altos dão a você uma visão ampla. Um líder precisa estar em lugares mais altos para levar seu povo para o lugar certo. Sempre procurei estar perto de quem enxerga melhor e vê adiante. Isso me ajudou e ajudará qualquer um a levar seu povo para um lugar seguro.

  • Quando sacramentalizamos o passado

Quando alguém está fixado no passado e mantido nas tradições humanas, dificilmente verá as possibilidades de criatividade e inovação. O novo virá de um coração que não se sente confortável com o que foi realizado no passado. Gostamos do que já vivemos, mas olhamos para o futuro e para as suas necessidades, então a criatividade e a inovação surgirão.

A igreja deve ser um lugar onde a criatividade floresce! E devemos ser as pessoas que fariam isso acontecer. Estamos perdendo uma geração porque nos preocupamos demais em manter as tradições. Olhe para o cenário mundial, artes, artistas, músicos, filmes, publicidade, em todos os lugares há pessoas sempre inovando.

Agora olhe para as igrejas, que estão tentando manter sua história, que está no passado e, fazendo isso, estão perdendo uma geração inteira. Sinto muito, mas não estou com isso

Quero me manter construindo uma igreja inovadora e criativa

Estou tentando, pelo menos estou

Cultos inovadores e criativos

Programas inovadores e criativos

Decoração inovadora e criativa

Ambientes inovadores e criativos

Isso nos levará a uma adoração autêntica

E o propósito de tudo isso é ALCANCAR TODAS AS PESSOAS PARA JESUS!

Nosso Deus é um Deus Criativo, Seu reino é um reino para exercitar a criatividade, ele nos deu mentes e cérebros para serem usados para sua glória. Quero concluir encorajando todos a continuar a buscar uma adoração que seja fiel à tradição, profunda em seu significado pessoal e inovadora em sua prática.

Espero que entendamos isso antes que seja tarde demais.

Mas lembre-se.

É um novo tempo, mas o evangelho de sempre.