por Miguel Uchôa | 28 jul, 2012 | Blog
“Perdoar é como o perfume da violeta no calcanhar que a esmaga…”
Um dos mais debatidos e talvez polêmicos temas da fé cristã é o perdão. Em nenhum outro credo há uma atitude sequer parecida quanto essa, perdoar indefinidamente, sempre e sempre. No entanto, mesmo dentro do Cristianismo ainda existem aqueles que insistem em dar uma conotação mesquinha a esta nobre atitude tentando colocá-la numa postura condicional. Mas o nosso mestre é Jesus e mesmo que os poetas e filósofos digam o que quiserem, continuo escutando o que Ele, Jesus disse. E Ele disse muito sobre isso. Especialmente e bem posto no chamado Sermão do Monte, esse trecho do evangelho guarda uma importante ensino para ajustar o novo pacto à antiga Lei. A Lei pregava olho por olho dente por dente (Ex:21:24) Mas o nosso mestre vai além, vai a uma retidão mais elevada abolindo totalmente a retaliação, onde isso era possível Ele mostra a postura da Graça. A malícia se perde no contexto das palavras de Jesus.
Atente para estas palavras:
Mateus 5:38-48
38 Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e dente por dente.
39 Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra;
40 E, ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa;
41 E, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas.
42 Dá a quem te pedir, e não te desvies daquele que quiser que lhe emprestes.
43 Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo.
44 Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus;
45 Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos.
46 Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo?
47 E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim?
48 Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus.
Essa sequência de “Ouvistes o que foi dito” é muito importante, não pelo que foi dito, mas pelo que está posto após os “Eu porém vos digo”. Minha vida como cristão está montada em cima dos “eu porém vos digo” o que foi dito passado está especialmente quando Jesus trouxe algo que vai além dele. Isso é o escândalo para os que têm o perdão como algo condicional, para os que alimentam amargura, para os que tem o rancor como uma tatuagem na sua alma.
O agressor recebe a graça, escândalo para os legalistas, horror para aqueles que insistem na postura do outro e não na misericórdia de seu coração. O agredido não esquece a agressão, afinal de contas a memória dada por Deus faz seus registros, no entanto a graça dada por esse mesmo Deus faz com que um coração agredido lembre da agressão, perdoe o agressor e não sinta mais nada contra ele. Fazer de conta que nada aconteceu é uma atitude imatura e sem fundamento, logo se desfaz, mas exercer perdão não se exerce fazendo de conta e sim seguindo as palavras de Jesus. Alguém já disse que perdoar é lembrar sem ressentimentos, como isso é verdadeiro. O nome disso é o milagre do perdão. Não há astúcia no perdão, há misericórdia. A máxima de JESUS foi dizer para sermos simples como as pombas e astutos como as serpentes. Simples no ato de perdoar e astutos, inteligentes para não nos enganarmos ou fazermos de conta que nada aconteceu. Mas mesmo lembrando, ser capaz de dar a outra face, andar mais uma milha, carregar o peso um pouco mais do exigido.
A humildade de Jesus foi se permitir ser exposto, ser humilhado, ser desprezado e dizer “Pai perdoa estas pessoas, elas não sabem o que fazem” eu quero essa humildade, essa é minha meta, eu desejo, anelo viver assim. Se alguém tirar vantagem de nós quando assim agimos? Ora isso ele terá que acertar com o Pai celestial a nossa parte é fazer aquilo que ele manda. Se Jesus tivesse que ser julgado novamente e novamente exposto a tudo que passou, novamente diria “Pai perdoa estas pessoas…”
O Perdão não cabe na mente dos legalistas e dos rancorosos, a estes, só cabe o Olho por olho, dente por dente.. nós no entanto ficamos com o “Eu porém vos digo”
por Miguel Uchôa | 25 jul, 2012 | Blog
A musica que escolhi para ser cantada em minha ordenação diaconal em um momento especial de entrega dizia assim “ Eis-me aqui, eu livre estou ao teu dispôr, para onde tu quiseres me enviar…” levo isso a sério em minha vida e ministério.
Conheci a Cristo em um processo duplo de evangelização, em parte pelo grupo da ABU (Aliança Bíblica Universitária) na UFRPE onde estudava Engenharia de Pesca e pelo grupo de jovens do então Ponto Missionário Anglicano de Boa Viagem. Em um processo de alguns meses fui exposto às Escrituras e minha decisão foi feita após ter lido todo o Novo testamento.
Minha decisão pelo ministério ordenado foi fruto de uma longa reflexão e uma consciência de chamado de Deus, comprovada por inúmeras experiências, algumas incrivelmente sobrenaturais outras claramente racionais o que em um balanço de emoções e decisões difíceis me levou à conclusão que esse era o propósito de Deus para minha ida.
Tenho servido a Deus como ministro ordenado nestes ultimo 19 anos,( completando 20 anos em Abril de 2013). Minha missão de vida inclui “Construir uma Igreja que seja agente de transformação na sociedade” Vivo para isso e para edificar uma família com firmes valores cristãos. Vivo para a Igreja, amo a Igreja e entendo que a igreja é a instituição imperfeita mais perfeita que existe. Tenho servido como pastor e ao longo dos anos tenho dado a minha parcela de contribuição à Igreja Anglicana e especialmente à Diocese de Recife. Já a representei em diversas ocasiões, conferências, encontros, comissões, em momentos de calmaria, mas também nos momentos mais difíceis por nós vividos. Representei a DR a pedido do Bispo Robinson em um dos momentos mais críticos da vida diocesana, numa audiência pública em Londres e em uma reunião no Escritório da Comunhão Anglicana com o Secretário pessoal do Arcebispo de Cantuária Chris Smith e o Secretario Geral da Comunhão Anglicana Rev Kenneth Kearon. Onde defendi a nossa condição de igreja fiel ao Anglicanismo histórico e aos princípios bíblicos. Assim creio e assim, hoje vivo.
Não limito o meu ministério à Igreja Anglicana, pois creio e sou um defensor da unidade da Igreja e de sua ação conjunta na sociedade. Por essa razão, participo de diferentes fóruns cristãos e sempre que possível colaboro com as atividades da Igreja na nossa região.
Nunca esteve em meus planos pessoais pleitear o oficio de bispo, apesar de ser legitimo fazê-lo quando se sente chamado, mas esse chamado nunca tinha me acontecido. No entanto no dia 26 de Fevereiro de 2012, após a trágica morte de nosso Bispo e sua Esposa e após participar de uma reunião com lideranças diocesanas, tive uma forte sensação de Deus estar me dizendo “Você foi preparado por mim para um tempo como esse!” entendi que os anos de experiência nacional, internacional, plantação de igrejas, relacionamentos eclesiásticos, treinamentos cursos e acima de tudo o ministério pastoral foram anos de preparação para ajudar a igreja nessa nova fase. Quando procurado por um grupo de clérigos da DR que me perguntaram “O seu nome estará disponível para a sucessão”? pela primeira saíram automaticamente de meus lábios estas palavras: “ Eu não posso deixar de disponibilizar o meu nome em um momento como esse”
Assim, está o meu nome disponível e estou participando desse processo de escolha da Igreja. Minha história de vida e ministério estão ligados a essa igreja, sou convertido, batizado e confirmado na Igreja Anglicana, nunca deixei seus limites e sempre cri que essa igreja tem uma excelente parcela a dar na evangelização de nossa região, país e do mundo.
Que a vontade de Deus seja feita.
Miguel Uchoa
por Miguel Uchôa | 23 jul, 2012 | Blog
UM MOMENTO IMPORTANTE
Reunidos em retiro espiritual durante todo o dia de ontem(sábado 21.07.12) nós os pastores e pastoras da Igreja Anglicana-Diocese de Recife buscamos a Deus para em unidade discernirmos sobre o perfil do líder que será eleito para a função de Bispo Diocesano em 15 de 09.2012.
No período da Manhã tivemos uma palavra de reflexão e exposição Bíblica ministrada pelo Pr Joel Bezerra, Pastor da 1a Igreja Batista do Recife, que nos desafiou bastante a perseguirmos um modelo de liderança bíblica, no padrão de Josué. encerramos a manhã com um momento de oração em grupo. No período da tarde tivemos um momento de estudo e discussão em grupo, que nos pareceu bastante positivo.
Após esse período foi solicitado de todos os pastores que canonicamente poderiam pleitear o cargo de Bispo Diocesano e que estavam colocando seu no0me à disposição da Igreja se manifestassem. Nesse momento colocaram seus nomes a disposição o Revmo Evilásio Tenório, Bispo sufraganeo (auxiliar) da DR e esse que vos escreve, Rev Miguel Uchôa, Reitor da PAES,(Paróquia Anglicana Espírito Santo) .
Feito isso, desde ontem temos então estes dois líderes cristãos anglicanos envolvidos em um processo de sucessão que, como dissemos será decidido no dia 15 de Setembro, pelo voto do clero e dos leigos. Todos os pastores em exercício de suas funções tem o direito de votar e cada comunidade envia delegados leigos que da mesma forma tem o direito de votar. As Paróquias enviam 3 delegados, as Paróquias subvencionadas enviam 2 e as Missões 1 reapresentante.
Peço a todos os que visitam esse blog e que crêem em Deus e amam a Sua Igreja que estejam em oração sobre esse assunto, para que esse processo seja algo abençoador para toda a igreja e que as pessoas envolvidas nele possam ser direcionadas por Deus em suas decisões.
Talvez você pergunte: Porque você disponibilizou o seu nome? Bom esse é um assunto para um novo artigo que será publicado em breve. Por enquanto, apenas estejam a par de tudo e mantenham-se em oração.
Miguel Uchôa
por Miguel Uchôa | 20 jul, 2012 | Blog
Como é do conhecimento de muitos, perdemos nosso Bispo Diocesano Revmo. Robinson Cavalcanti no início deste ano de maneira trágica. A igreja sofreu, mas segue na sua missão de levar as Boas Novas a todos. No processo sucessório inclui-se a eleição de um novo Bispo que acontecerá no dia 15 de Setembro. No entanto durante todo o dia de amanhã os pastores e pastoras da Diocese de Recife, estarão reunidos em retiro espiritual em busca de discernimento. Para dar continuidade a esse processo. Pela seriedade do momento e sua relevância para a vida da igreja, solicito que se você crê, eleve uma oração a Deus por estes homens e mulheres, para o bom andamento da reunião, para que tudo corra de acordo com a vontade de Deus e que a velha política eclesiástica seja repreendida de nosso meio. No sábado a noite postarei aqui sobre esse retiro. Obrigado pelas suas orações, Rev. Miguel Uchoa Paróquia Anglicana Espírito Santo
por Miguel Uchôa | 28 jun, 2012 | Blog
A contribuição do princípio de igreja em células (pequenos grupos) no desenvolvimento da Missão Integral, e a vivencia dos propósitos de Deus como atestação de uma igreja saudável.
Um pensamento.
Quem já me conhece sabe que sou um cristão, sou um evangélico e sou um anglicano, necessariamente nessa ordem. Aprendi isso dos lábios e das letras escritas pelo Rev. John Stott que já se encontra na plena presença de Deus e por ter ouvido por quase trinta anos dos lábios de meu falecido bispo Revmo. Robinson Cavalcanti que desfruta também hoje dessa mesma presença.
Sendo assim, e engajado nesse ramo imperfeito do cristianismo entendi logo cedo o que significava missão integral como sendo o evangelho todo, para o homem todo e para todos os homens ( seres humanos). A Igreja Anglicana, seguindo na direção do Pacto de Lousanne, declarou e, 1988 ( Conferência de Lambeth) que a missão da Igreja seria:
· Proclamar o evangelho do Reino
· Batizar, ensinar e incorporar os convertidos a uma comunidade da fé
· Despertar nos corações dos fieis respostas de misericórdia às necessidades
humanas
· Denunciar as estruturas iniquas da sociedade
Como anglicano cresci na igreja vendo isso e entendendo que assim deveria ser. Logo cedo me tornei um defensor dessa declaração e procurei sempre fazer com que ela acontecesse em todas as suas dimensões por onde passei e tive a oportunidade de ministrar. Quando, porém me tornei pastor de uma comunidade local pela primeira vez, imediatamente procurei buscar essa realidade o que faço hoje quase 16 anos depois de ter plantado a igreja da qual sou reitor até essa data, a Paróquia Anglicana Espírito Santo. (PAES)
Tenho visto muito se falar em missão integral da igreja, mas nem sempre tenho visto os que falam realizarem essa missão. Esses são chamados os teóricos e me parece, existirão sempre, meu receio é que eles sejam a maioria, o que percebo estar acontecendo hoje nesse particular, salvo juízo equivocado de minha parte. Isso seria tema para um artigo bem mais denso a ser chamado de ortodoxia x “ortopraxia”, que pretendo escrever qualquer dia.
Entrando no tema desse artigo, quero apresentar como vejo que o movimento das igrejas em células pode colaborar com o cumprimento da missão integral e como a implementação do 5 propósitos de Deus pode trazer saúde para a igreja em qualquer circunstância.
Alguém vai dizer que existem essas e aquelas igrejas que possuem esse e aqueles desvios, eu também diria isso, mas não estamos falando de casos, estamos tratando de princípios a serem aplicados e quando aplicados corretamente surtem o efeito desejado e Deus é glorificado
ü Ajuda na Cristologia
Nenhuma eclesiologia seguir-se-á bíblica e integral se não colocar Jesus Cristo no centro de sua adoração. A declaração da igreja do novo testamento era clara “Jesus Cristo é Senhor”, mas isso não pode vir apenas na placa de uma instituição, precisa entrar em suas portas e da mesma forma na vida das pessoas. O senhorio de Cristo é mencionado centenas de vezes no NT. Tudo na Igreja existe para Jesus Cristo e para render-lhe honra e louvor. Sem a proclamação de Jesus como Senhor não há evangelho integral. Essa “cristologia” aponta para uma eclesiologia saudável. Segundo escreveu Rene Padilha
Quando a igreja perde de vista a centralidade do Senhor Jesus Cristo, deixa de ser a igreja e passa a ser uma seita religiosa incapaz de relacionar sua mensagem com vida prática e a vida pública. A igreja integral é aquela que entende que todos os âmbitos da vida são campos missionários e busca forma de afirmar a soberania de Jesus Cristo em todos eles. [1]
O princípio de igrejas em células tem levado as pessoas a focarem suas vidas nesse senhorio e não apenas numa religiosidade obscura e morna. A grande dispersão da liderança e o centro da mensagem na pessoa de Cristo tem ajudado cada cristão a focar sua vida em servir e adorar a esse cristo Senhor e não simplesmente a aceitar uma salvação que por mais que seja importante não completa o evangelho integral. As células, lideradas por pessoas comuns ( chamadas de leigos) , revelam esse senhorio, as reuniões, focadas em motivar todos a viverem esse senhorio ajuda na formação de uma adoração cristológica. O alvo de cada líder de grupo é sempre fazer Cristo ser aceito como salvador e adorado como Senhor. A simplicidade com a qual isso é passado dom púlpito para os grupos e digerido semanalmente ajuda na formação de uma consciência integral.
A visão cristocentrica de uma igreja em células leva a uma adoração a Cristo e à rendição de todo o ser nesse processo. Assim o primeiro propósito é cumprido e Cristo permanece no centro, sendo ADORADO.
ü Ajuda no discipulado cristão
A teologia da Missão integral defende a prática de um “discipulado radical”. É entendido como sendo um estilo de vida submisso à vontade de Deus e veementemente missionário. É entendido que sem arrependimento e sem fé não há discipulado. O propósito do discipulado é produzir na pessoa convertida a imagem de Cristo e isso é um processo infindo, porém real e prático. O texto do Ev de Mateus conhecido como grande comissão no lança a isso.
Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos”. Mt 28:19-20
Aqui segue uma exortação a uma prática do ensino e o ensino envolve aquele senhorio já falado sobre as nossas vidas e o ensino sobre tudo que Cristo ensinou como missão. Mais uma vez sendo esse aspecto vital para a missão integral , o movimento das igrejas em células vem dar a sua contribuição. Nessa visão o discipulado, o ensino começa logo no momento em que a pessoa conhece a Cristo e dentro de um desses pequenos grupos. Ele é condição e pré-requisito para os passos posteriores e para a tomada de qualquer outra direção seja de servir ou de liderar. Não existe igreja em células sem discipulado. E esse discipulado é feito dentro do próprio grupo, de maneira intencional e programada. Não se espera que a pessoa se matricule em uma classe dominical, ou em um curso promovido pelo comunidade. Existe uma ação direta do líder e dos participantes em promover o discipulado pessoal, no dia a dia, vivenciando a santa rotina vendo o exemplo dos demais seguindo também um programa pré-estabelecido. De maneira geral em um período de alguns meses essa pessoa está “preparada “ para transmitir o que aprendeu a outra pessoa que chegue. Assim, segue-se o evangelho integral e cumpre-se o 2º propósito de Deus que é levar o cristão a refletir a imagem de Cristo, DISCIPULADO.
ü Na visão bíblica de Igreja
No conceito de missão integral, e não poderia ser diferente, a igreja não é um mero aglomerado de pessoas que se ligam aos demais centrados em interesses religiosos. O texto de At 2:41-47 mostra o que é uma igreja em todos os seus aspectos. Retira qualquer resquício do que se chama de igreja-gueto que se centra em uma espiritualidade individualista e alienante. O texto mostra que ela é uma comunidade que é inclusive foco de atenção, “tem a simpatia do povo”, é inclusiva, vive em comunhão com quem está e se abre a comunhão com quem se achega.
A Igreja integral vive o senhorio de Cristo em todas as áreas, como já dissemos e afirma isso em seu estilo de vida. É uma comunidade missionária que olha para fora de suas paredes e tem seu foco nos perdidos sem Deus e nos perdidos sem qualquer ajuda além de estarem com ou sem Deus.
Há alguns anos atrás visitei um país da América Latina onde fui observar de perto uma grande igreja em células ali existente. Vi muitas coisas e confesso que deixei de ver algumas outras e senti falta delas. No entanto o que vi me animou mais do que o que não vi. Uma comunidade inclusiva, não sectária, atraente e acolhedora, cheia de amor pelo ser humano. Vi a Igreja de Atos em ação. Depois disso tenho convivido com outras igrejas e lideranças no Brasil e fora daqui e percebo o quanto o modelo de igreja em células ajuda na formação de uma igreja mais bíblica, que desenvolve comunhão que vai além de um encontro dominical ou de um ativismo programático, que é focada em gerar novos crentes e assim se torna uma comunidade atraente.
A Igreja Romana esteve bem perto de entrar em algo parecido quando da criação das comunidades eclesiais de base, guardadas as devidas proporções. Mas é um conceito de igreja integral que lida com o Ser humano em todas as suas dimensões, que se ajudam mutualmente e que vive uma ação que nega o clericalismo tão presente na igreja institucional ( sobre isso voltaremos a falar) . O modelo de igrejas em células não nega ou rejeita a instituição, mas coloca-a dentro de seu verdadeiro papel de facilitadora e não de fim em si mesma. É uma comunidade que se pode antever o começo de uma nova humanidade ainda imperfeita, mas com marcas positivas e animadoras de uma família de Deus. Neste aspecto comunitário uma igreja em células é o mais próximo modelo de uma igreja bíblica que desenvolve uma visão integral, e não poderia deixar de ser assim. Isso é a práxis da ortodoxia, o ser uma igreja comunitária. Assim vive-se também o propósito da COMUNHÃO.
ü Ajuda nos Dons, Ministérios e Serviço
A Igreja de Jesus Cristo é um campo de treinamento de talentos inatos, manifestos em dons, que geram ministérios, servem ao próximo e realizam o propósito de Deus nesse mundo. O evangelho integral não pode prescindir disso. Biblicamente falando a perspectiva bíblica de servir é trinitária de acordo com o que Paulo escreve aos Coríntios .
Há diferentes tipos de dons, mas o Espíritoé o mesmo. Há diferentes tipos de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diferentes formas de atuação, mas é o mesmo Deus quem efetua tudo em todos. 1 Co 12:6
Segundo os estudiosos da Missão Integral não é possível exagerar a importância dessa afirmação para uma eclesiologia para uma missão integral. As igrejas evangélicas tem uma grande divida nesse sentido e entre outros motivos a tendência de se viver um cristianismo intimista e uma adoração ( culto) apartado da vida prática. Quando se vive uma fé assim, ai de fato a igreja necessita de “sacerdotes” que intermedeiem a relação do povo com Deus, surgem os especialistas que promovem cada vez mais a ênfase na busca em suprir as necessidades espirituais dos crentes apenas. Nesses casos surge a clara divisão entre clérigos e leigos, vida religiosa e vida secular, sagrado e secular. Uma concepção limitada que fratura o ser e que encontra raízes muito mais na filosofia grega do que em qualquer ensino de Jesus Cristo. Jesus era hebreu e o conceito hebraico do ser é completo, integral.
O Deus trino atua e distribui entre seus filhos os diversos dons que existem para o bem comum segundo Paulo enfatiza aos coríntios. No conceito de missão integral, o ministério é feito por todos que exercitam os diferentes dons recebidos e em todas as áreas de necessidade do ser humano. Para René Padilha a missão exige uma “desclericalização” dos ministérios e uma “laicização” dos leigos. Em outras palavras exige o reconhecimento do caráter apostólico de toda a igreja. Em outras palavras isso significa que o povo por serem discípulos são em si enviados ao mundo e os líderes por sua vez são também povo sem serem no entanto mais nem menos que eles. Isso está ligado ao ensino bíblico do sacerdócio universal de todos os crentes tão destacados por Lutero, Calvino e os reformadores de maneira geral.
No modelo de igreja em células isso é bem mais facilmente praticado. Todos são enviados e isso não é apenas dito, é praticado. A célula é um núcleo missionário, seu líder é um facilitador igual aos demais porém exerce o dom que recebeu de liderança enquanto outros dentro do mesmo grupo estão em preparação para isso e ao mesmo tempo servindo em ministérios, realizando a missão, discipulando outros, agindo no meio social, trazendo amigos para a célula, vivendo cada qual o seu chamado de forma prática.
Isso gera uma desclericalização bastante interessante. Sou reitor de uma paróquia que trabalha com células e uma das coisas interessantes é o quanto menos eu e minha equipe de pastores é solicitada para a realização de tarefas que na mente de alguns são exclusivas dos pastores(as) quando não as entendem como obrigações destes(as). Assim a missão ocorre de forma integral pois todos os dons são exercitados, os pastores exercem seus chamados e não se constituem em obreiros sacramentais apenas e o corpo , como diz Paulo como juntas e ligaduras, vai unido cumprindo a sua função. Numa igreja onde a missão integral é vivida, a liderança “clerical” da igreja é de caráter funcional, existe para capacitar o povo para o ministério. Assim o modelo de igreja em células e simplificador neste aspecto e leva a igreja enquanto povo de Deus a desenvolver o propósito do SERVIÇO.
ü Ajuda na evangelização
A missão nunca seria integral se prestássemos todos os serviços e esquecêssemos de proclamar a Palavra. O IDE é muito claro e em diferentes partes do NT se apresenta uma grande comissão e em todas elas o kerigma é central. Nada supera a proclamação. “Como ouvirão se não há quem pregue? “
No modelo de igrejas em células a evangelização faz parte do DNA de cada membro. É impressionante a disposição das pessoas que vivem sob esta visão de igreja. O “espírito de conquista” está sempre presente e trazer uma pessoa para Cristo através dos pequenos grupos e dos seus relacionamentos é algo que não se discute, se pratica simplesmente.
Um Pastor amigo que lidera uma comunidade cristã, ligada a uma igreja histórica tem sido para mim um exemplo de líder. Uma igreja que possui mais de mil pequenos grupos em plena atuação, uma verdadeira maquina evangelizadora que desperta no povo uma sede insaciável de trazer mais uma pessoa à Cristo, de servir ao próximo da melhor maneira possível, e de ser agente de transformação da sociedade. Esta comunidade coordena um serviço de cuidado com crianças de ruas que é referência mundial, uma de suas líderes acaba de ser condecorada com uma honraria pela Rainha da Inglaterra na passagem de seu jubileu. Isso é missão integral facilitada pela visão de igrejas em células. Dele me veio a inspiração para lançar em minha própria comunidade a iniciativa permanente chamada “+ 1 Para Cristo”.
A evangelização através das células foge um pouco do sistema tradicional e é focada na base dos relacionamentos. As pessoas aceitam o seu convite a uma reunião ou a um evento porque lhe conhecem e não veem como você poderia desejar algo para elas que não fosse bom. Isso está diretamente ligado ao tipo de cristão que estamos desenvolvendo, numa igreja sadia, que produz cristãos sadios, esse processo se dá com naturalidade. Assim , se cumpre o propósito da EVANGELIZAÇÃO.
Epílogo
Por fim, entendo ainda que o modelo de igreja em células contribui para a prática de uma Missão Integral no aspecto da liderança. Nesta concepção de missão a liderança deve ser serva e nunca manipuladora.
Alberto Guerrero afirma que
desde a reforma que muitos tentam viver o sacerdócio universal de todos os crentes na prática. Mas isso tem sido um tema esquecido, cheio de pó e há muitos convém que fique assim…pode o movimento de igrejas em células nos ajudar? [2]
Eu responderia que sim pode, e pode muito. O modelo de liderança numa igreja em células é infinitamente superior em sua eficácia ao modelo de liderança de uma igreja institucionalizada, engessada em sua hierarquia. E digo que é superior não por motivos de qualidade das pessoas necessariamente, mas pela eficácia do serviço prestado. Na maioria esmagadora das vezes é realizado por voluntários, que fazem o que fazem por amor a causa e à Cristo, não são remunerados para isso mas veem seu prêmio apenas refletido em um coração agradecido pela salvação recebida e o privilégio de poder compartilhar de graça e com animo o que da mesma forma recebeu.
Essa é uma liderança serva e é isso que encontramos no modelo de liderança das igrejas em células. Neste caso não interessa se igreja é “grande” ou “pequena” , se tem um lindo prédio ou não, se faz parte de uma denominação histórica ou está ligada a uma rede de igrejas livres, de fato, isso não faz a menor diferença pois o que faz essas comunidades funcionarem é o “espírito de servir” existente em cada líder e em cada membro dessas verdadeiras famílias de Deus.
Todos estes aspectos tornam a Missão Integral algo extremamente prático e nos ajuda a sairmos dos gabinetes de debates infindáveis, das discussões em congressos e seminários que se estendem por anos e que, em alguns casos, estes ambientes estão repletos de teóricos que muito dizem da Missão Integral, mas que pouco ou nada fazem para integrar essa missão na vida de suas comunidades. Pastores que alimentam o discurso da Missão Integral, mas nunca alimentaram uma alma, e os pequeninos seguem passando por eles ao descaso de seus olhos e a insensibilidade de sua prática.
O modelo de igreja em células, como vimos e como defendem muitos dos principais articulistas da Missão integral pode e tem contribuído para que a ortodoxia que proclamamos se torne a “ortopraxia” que efetuamos. Assim, de fato, creio que as células e os propósitos da adoração, do serviço, do discipulado, da comunhão e do evangelismo se constituem em uma excelente estratégia para se viver a Missão Integral da Igreja e tornar a Igreja de Jesus Cristo um corpo saudável independente de seu tamanho.
Miguel Uchoa
[1]Igreja agente de transformação. Missão Aliança, Ed Kairos. P 50 2011
[2] Igreja agente de transformação. Missão Aliança, Ed Kairos. P 183, 2011
por Miguel Uchôa | 29 maio, 2012 | Blog
Quando você vier, traga a capa que deixei na casa de Carpo, em Trôade, e os meus livros, especialmente os pergaminhos. 2Tm 4:13
Acabei de ler esta maravilhosa biografia escrita por Eric Metaxas, uma narrativa impressionante sobre a vida desse pastor, espião e mártir chamado Dietrich Bonhoeffer. Tenho a prática de ler pelo menos uma biografia relevante a cada ano, tenho aprendido muito com elas, são experiências de vidas que marcaram a história da humanidade.
A leitura é algo tão edificante e tão importante que não posso imaginar alguém que vive e não lê. E, ao mesmo tempo posso imaginar quem vive e lê o que o mercado produz de lixo editorial. O importante não é somente ler, mas o que ler. Certas leituras também alienam.
Como cristão a minha leitura primeira é a Sagrada Escritura, dela não abro mão, dela não me afasto e nada pode substitui-la em minha prática de ler. No entanto, não posso me deter a ela, vivo em um mundo secularizado, globalizado e bem, movimentado. Em um país tão dinâmico quanto a sua gente e tão criativo quanto se possa imaginar tanto para as coisas boas quanto para as coisas más. Por isso, como costumava mencionar nosso saudoso Bispo Robinson Cavalcanti “ Um Cristão deve ter em mão sempre o jornal, a revista da semana e a bíblia” creio mesmo que esse conjunto, esse tripé, forma e informa e associado a ele, os livros cristãos de qualidade que temos disponíveis, os romances e a boa literatura que existe em abundância.
Eu estou lendo, nesse momento leio, além do tripé insubstituível, o livro publicado pela missão aliança e ediciones Kayros Igreja: Agente de transformação. Uma coletânea de textos sobre a missão da igreja numa perspetiva integral para todos os seres humanos e para todo o ser humano. Ganhei esse exemplar do Bispo Robinson quando de sua ultima visita a nossa igreja para a sua também ultima confirmação entre nós. Leitura estupenda, cheia de riquezas e ensinamentos que nos levam a sermos mais que sal em um saleiro, mais que uma igreja dentro de um templo, mais que uma placa que indica um local de reunião. De fato estou amando o material .
Estou escrevendo, nesse momento um texto onde narro a minha experiência coma enfermidade e o que ela me mostrou em relação a igreja. Durante esse período eu pude perceber numa lição prática insubstituível ‘Quando a iGREJA é Igreja”. Além disso estou iniciando o 2º devocional que estarei escrevendo para ser usado no período da quaresma 2013. Para aqueles do meio cristão evangélico que desconhecem estes termo, são aqueles 40 dias que estão entre a 4ª feira de cinzas e o domingo de páscoa. Período tradicionalmente separado na igreja para reflexão, meditação em preparação para a semana santa e a páscoa. No prelo está o texto “ para dizer sim com convicção, sugestões para se chegar ao altar em paz”. A ser lançado pela Ed Mundo Cristão em breve.
Estou vivendo, nesse momento, com toda a intensidade que me é permitida. Olhando o presente e procurando enxergar onde posso ser o mais útil possível ao Reino de Deus e a concretização de sua vontade para a sociedade humana. Algo tenho certeza, que vivo dentro de Seu propósito, mas não sei o que me aguarda porquanto nunca me foi dado o direito de saber esse tipo de coisa. Como me disse alguém uma vez, “Miguel, Deus faz como aquela voz que anuncia a próxima estação no metrô, ela só anuncia a próxima estação e não toda a viagem.” Creio que é mesmo assim, Deus vai nos dando as pistas e nós vamos seguindo-as e lá na frente até nos surpreendemos por onde andamos e onde conseguimos chegar e aí reconhecemos que assim foi pela Sua grande misericórdia.
Vivo em paz comigo, vivo em paz com meu próximo, vivo em paz com Deus. Tenho uma família abençoada, um ministério que me dá prazer e que vejo como estando no centro da vontade de Deus. O que mais poderia desejar? O que mais me realizaria se a isso e para isso entreguei a minha existência, se nisso se resume toda a satisfação de minha vida? Tudo mais considero que me tem sido acrescentado e muito tem de fato sido.
Não me deleito mais com coisas que não estão no centro do coração de Deus, não perco meu tempo com aquilo que não ajuda a cumprir minha missão tenho aprendido na prática o que a bíblia chama de remir o tempo. Isso aprendi e não quero perder jamais essa noção. Tudo que eu faço, que seja para agregar valor ao Reino de Deus.
Por essas razões é que digo que tenho a necessidade de estar: Lendo para me enriquecer e informar, Escrevendo para transmitir um pouco daquilo que tenho vivido e, vivendo para ser útil a Deus e ao próximo como parte expressiva de minha missão nesse mundo, até que ele me chame.