Existe no Brasil um considerável movimento de crescimento da igreja evangélica, isso é inegável. Mas em momento algum esse movimento deve ser considerado como um avivamento, quando isso acontece existem marcas que acompanham esse chamado “avivamento”. Uma simples olhada na história dos grandes avivamentos e veremos que eles sempre são acompanhados de alguns fatores comuns. O padrão dos avivamentos segue aquele primeiro de todos após Pentecostes e que está registrado no segundo capítulo do livro de Atos dos apóstolos cap 2: 41-47
Um genuíno avivamento é acompanhado dessas marcas, claras aqui no texto de Atos
Crescimento numérico dos que aceitam a Cristo.
Dedicação ao estudo da Palavra de Deus
Celebração e oração
Temor
Sinais e maravilhas
Unidade
Serviço ao próximo e necessitados
Reuniões familiares (células?)
Simpatia do povo
Crescimento natural
Em um movimento de crescimento de igreja apenas, e esse parece ser o caso do Brasil, algumas dessas marcas até aparecem, especialmente o crescimento numérico, mas elas estão descontinuadas e longe de atingir as demandas da nação. Na Inglaterra com Wesley, houve um evangelho integral atingindo todos os setores da sociedade, no Pais de Gales com Evan Roberts aqueceu a fé de uma nação inteira que vivia morta espiritualmente, no oeste da África trouxe uma devoção pela palavra de Deus pelo evangelismo e pelas disciplinas espirituais que são vividas até os dias de hoje como herança daquele mover.
No nosso caso brasileiro a situação é bem diferente e alguns males precisam ser sanados para que um verdadeiro e genuíno avivamento envolva a nossa nação. É claro que existem casos louváveis em várias e diferentes realidades e igrejas, mas de longe não representam o que se conhece como a Igreja Evangélica Brasileira ou o que podemos chamar de “Cultura Gospel” em nosso país, essa de fato é entristecedora. Cito abaixo o que percebo em uma rápida análise
Falta de unidade_ O individualismo, salvo exceções, é muito forte na cultura gospel brasileira. Ilhas de unidade e seriedade podem ser encontradas, mas de maneira geral cada um cuida de seu “império” e o discurso raso de unidade não sobrevive ao conselho de Paulo aos efésios “há um só Senhor, uma só fé, um só batismo” Ef 4:5. Nunca rebatizei um crente pois creio no valor do sacramento, já recebi vários vindos de outras confissões denominacionais, mas sempre tive o credo como sinal de unidade e o batismo como marco de uma fé uma vez confessada como sendo necessária. Recentemente e sem ser a 1ª vez, vi um antigo membro de minha congregação ser batizado em uma igreja “irmã” cujo pastor bate em minhas costas e me chama de querido, mesmo não reconhecendo o batismo por mim realizado. Onde está a unidade?
Independência_ Lamento por uma geração inteira de líderes da cultura gospel que caminham sós e sem a necessária e bíblica prestação de contas. Seguem sem conselhos e quando recebem, entendem como ingerência ou inveja pelo seu grande salto de “sucesso”. Sou líder de uma denominação de regime episcopal que possui nos bispos os pastores de pastores, que atuando apropriadamente são verdadeiros pais espirituais gerando uma relação em que a prestação de contas é necessária e a independência não faz parte. Alias a independência é a marca do maior desvio que jamais existiu na humanidade. Lideranças independentes produzem uma igreja dependente deles mesmos. O bom exemplo tem sido dado por aqueles, que mesmo em grupos denominacionais diferentes, se protegem prestando contas uns aos outros, existem bons casos no Brasil, mas ainda são exceções.
Teologia pobre em hermenêutica_ assusta a pobreza, para não dizer a ausência de uma boa hermenêutica nas mensagens de tantos púlpitos brasileiros. As vezes me surpreende a “criatividade” da mente de alguns pregadores que, sem a mínima base teológica, conquistaram grandes públicos com uma teologia “coach”, positivista e versada em uma prosperidade antibíblica onde o sucesso é a única opção e sofrer é para os fracos.
Proselitismo_ existe no Brasil um crescimento de algumas comunidades que na medida que crescem outra encolhem. Este é o crescimento por proselitismo, eu explico. É natural que cristãos mudem aqui e ali de comunidade. Seja porque não gostam mais do pastor ou porque simplesmente se decepcionaram com alguém em sua comunidade ou por outras razões menos importantes. Acho que tudo isso pode acontecer dentro da normalidade. O que não me parece normal e evangélico é o proselitismo intencional e isso acontece com frequência no Brasil. Líderes criam grupos, movimentos, programas e mesmo conferências “ecumênicas”, atraem pessoas de diferentes igrejas e depois, abrem igrejas a partir desses grupos e a migração acontece. Isso é triste de se ver, igrejas que enchem porque outras murcham.
Carreira x fé _ me chama a atenção o que eu chamo de desvio de função existente por pastores que ganha espaço no meio evangélico brasileiro. Eu fui chamado para equipar os santos, segundo Paulo escreveu aos efésios
E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado, Ef 4:11-12
Por outro lado, Jesus diz e Paulo repete (Mc 10:10, 1m Tm 5:18) que o obreiro é digno de seu salário. E por isso eu considero “desvio de função” porque eu recebo salário para preparar os santos e não deveria cobrar mais por esse mesmo trabalho. É grande o número de pastores que estão criando cursos e mentorias particulares e cobrando por isso se desviam daquilo para o que foram chamados pois são pagos por suas igrejas para equipar os santos. Mas se alguém que é membro da igreja de um desses pastores, que já paga um salário para que ele os prepare para a obra do ministério e que, desejando participar de um desses cursos terá que pagar a mais. Lamentavelmente são líderes midiáticos, que estão nas redes sociais cativando pessoas e trazendo-as para seus apriscos e planos de carreira.
Continuamos orando por um avivamento genuíno…. que venha e que venha breve!!
Portanto, irmãos, rogo-lhes pelas misericórdias de Deus que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o culto racional de vocês. Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Rm 12:1-2
O Cristianismo em sua versão original é um conjunto de crenças bem sólidas. Essas crenças foram questionadas por toda história e por diferentes expressões filosóficas, tradições religiosas, usos e costumes antigos e modernos, sistemas de governo e governantes e, nunca sucumbiu nem tampouco negociou seus valores e assim, se manteve firme em suas origens por séculos. Talvez, uma das razões para essa “firmeza” seja o fato de o principal sistematizador de suas doutrinas ter sido Saulo de Tarso, depois Paulo apóstolo de Jesus Cristo por chamado especial. Judeu, de origem farisaica, educado na escola de Gamaliel, que foi um dos mais renomados nomes das escolas teológicas judaicas do 1º século.
A Escola farisaica era conhecidamente rígida, exclusivista e nacionalista. Flexibilização não era uma palavra que fazia parte do vocabulário fariseu. Eram reconhecidamente fundamentalistas e foram classificados por Jesus como “Hipócritas” e “Sepulcros caiados” no evangelho de Mateus
“Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês são como sepulcros caiados: bonitos por fora, mas por dentro estão cheios de ossos e de todo tipo de imundície. Mt 23:27
Alguns se arriscam a dizer que, de alguma forma, isso pode ter tido uma relação direta com a maneira que a fé cristã se estabeleceu e não somente sobreviveu, mas avançou consideravelmente nos primeiros séculos da era cristã em meio a um turbilhão filosófico, uma verdadeira salada filosófica greco-romana e um arcabouço doutrinário judaizante, a outra possibilidade é assumir que a mensagem prosperou porque era plano de Deus e o Espirito Santo atuou profundamente, pela “excentricidade” da mensagem para a mente helênica, somente por esse poder o evangelho poderia se expandir. Particularmente fico com a segunda opção, sem, no entanto, desconsiderar a primeira.
Mesmo falando a hedonistas, seguidores de Platão, epicureus e outros, Paulo nunca negociou os princípios do evangelho, nunca procurou adequar essa mensagem a qualquer circunstância que a deixasse mutilada. Dizer. Como já escutei, dizer que Paulo não era ortodoxo é desconhecer Paulo e a sua teologia. Foi essa ortodoxia que o levou por diversas vezes a quase sucumbir e morrer, mas sempre mantendo sua palavra firme e a apresentação de um evangelho ortodoxo, sólido e imutável.
Às mulheres de Corinto disse” não cortem os cabelos, para serem diferenciadas das sacerdotisas prostitutas que serviam nos templos pagão e rapavam suas cabeças, aconselhou também que elas não falassem em público para que, da mesma, forma não fossem confundidas com as líderes religiosas pagãs. Sim Paulo era ortodoxo, deu solidez a mensagem do evangelho, usou de ferramentas de seu tempo, sem negociar os pilares da fé.
Por definição, pelas suas origens e pela sua história a fé cristã é sólida e ortodoxa
Ortodoxia_ interpretação, doutrina ou sistema teológico implantado como único e verdadeiro pela Igreja
Lamentavelmente, mesmo existindo hoje muitos homens e mulheres de Deus que seguem os passos desse gigante de Tarso, que dão solidez a mensagem do evangelho e não negociam seus pilares, surge em nosso meio evangélico um tipo de cristianismo que, mesmo não apresentando algo necessariamente novo, começa a importar posturas e pensamentos que promovem um cristianismo “adoutrinado”, sem absolutos, amórfico e assim, perdendo sua capacidade histórica de ser referencia par quem busca uma relação verdadeira com Deus .
O sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017) um dos eminentes teóricos sociais do mundo é o autor do livro Vida Liquida, Zygmunt acreditava que, ao fazer perguntas sobre nossa própria sociedade, ficaríamos mais livres, e alguma forma Isso desenvolve o pensamento que leva a ideia de uma sociedade autônoma que questiona tudo o que é narrado e, sai em busca de novos significados e assim passa a questionar os valores que estão sendo colocados para todos nós. Alguns que seguem esse pensamento afirmam que não podemos ser escravos de narrativas que estão sendo fabricadas ao nosso redor, perdendo contato com as nossas próprias experiências subjetivas. Advogam que na vida pessoal se vive essa mudança de sólido para líquido diariamente e isso se reflete na economia que antes valorizava um emprego permanente e hoje se entusiasma com uma multiforme expressão profissional que faz de tudo e encontrar algo com o que se possa conformar parece de pouco ou nenhum interesse. Para Bauman, a vida líquida é uma vida de consumo. Isso se repete em nossas crenças, que estão sujeitos a mudanças. A realidade é dividida em módulos, que muitas vezes parecem pertencer a universos paralelos. Não há um quadro sólido para dar significado às nossas vidas. Para ele, uma vida muito mais líquida parece inevitável. Mas é isso que realmente queremos? Isso é bom para nós?
E a resposta precisa ser clara, definida e objetiva: Não, não é! Especialmente para aqueles (as) que se incluem no grupo dos cristãos. Para um cristão a vida liquida é tudo que se opõe aquilo que Jesus Cristo trouxe em seu evangelho. Em absoluto, não é porque saímos da ortodoxia da lei que entramos em uma graça heterodoxa. A fé cristã é sólida na sua mais profunda origem e assim precisa se manter para que não sucumba ao século. Ser contracultura é ser sólido, é o que está firme e que não se abala.
Paulo quando escreve aos romanos deixa claro que a solidez da fé cristã não se adequa ao estado líquido do pensamento moderno. Ora se ele diz “não tomem a forma do mundo…” devemos prestar atenção a como isso poderia se dar hoje. Venha comigo e raciocine, para se tomar a forma seria necessário estar em um estado que se adeque a essa “fôrma”, e assim precisaria ser liquido, uma fé sólida não se encaixa na fôrma desse século, assim, não procura se adequar a ele, ao contrário, o “mundo” precisa necessariamente tomar a forma da fé cristã, seguir sua direção e afirmar seus valores. Quando dizemos que “fomos do mundo”, é porque deixamos que Jesus nos preenchesse e nos moldasse aos seus propósitos. Assim é!
Existe hoje um cristianismo líquido que procura, para agradar a todos e a todas as tendências, se adequar a elas. Nele, não há mais absolutos, tudo se relativiza e assim, der maneira ‘liquida”, se encaixa em toda e qualquer proposta mundana. Esse cristianismo líquido usa como base, equivocadamente, e fora de todo contexto, a máxima bíblica que devemos fazer de tudo para estar em paz com todos (Rm 12:28). Eu diria que ele se agarra muito mais ao ditado popular que quer agradar a gregos e troianos, e quem conhece um pouco de bíblia e de história sabe dessa impossibilidade. Quem assim age, desagradará a Deus.
O Cristianismo líquido não é escriturístico e assim se perde em valor e conteúdo. A sua liquidez gerou uma gama de pregadores que agora dizem o que querem em uma hermenêutica tão frágil quanto suas mentes vazias. Uma das maiores falácias escutei de um jovem pastor brasileiro quando disse: “se precisou ser Jesus para morrer em seu lugar, é porque você é muito importante, você é igual a Jesus”. Numa absurda inversão de papeis ele nos tirou do estado de miserabilidade, imperfeitos, pecadores, maus. Em uma frase ele dizia que não foi porque meu pecado era tão grande que precisava alguém como Jesus e sim que eu era tão importante quanto Jesus…
O cristianismo líquido é tradicional, mas é pentecostal, é reformado e carismático… não importa, ele se adequa a sua melhor forma e a sua maior conveniência. Ele jamais entra em uma “bola dividida”, afinal de contas, não quer ferir ninguém. Não, Jesus não foi assim, ele dividiu quando foi necessário, questionou quando necessário, exortou, advertiu e repreendeu, quando necessário.
Faça uma análise de seu cristianismo e veja quão liquido ele é…
A igreja de Jesus Cristo é uma família, querendo ou não, se você confessa a Jesus como único Senhor e Único salvador, você é da família do Pai celestial. Veja o que Paulo diz aos efésios
Portanto, vocês já não são estrangeiros nem forasteiros, mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, tendo Jesus Cristo como pedra angular, Ef 2:19-20
Assim, a unidade dessa família deve ser vista, deve ser algo concreto, quase que palpável. Como toda família podemos ter algumas diferenças, mas elas são periféricas e o Credo apostólico, um dos mais antigos documentos da fé cristã veio para ser nosso primeiro “estatuto” e dizer o que une o nosso povo e nos faz ser Família de Deus.
Amo a igreja, amo essa família e mesmo em meio a essas diferenças, que existem em toda família, sempre sairei em defesa dela e dos que são meus irmãos e irmãs. Nunca me associarei com o pensamento desse “século” para me dissociar dos valores dessa família, nunca me omitirei para preservar uma pretensa imagem pessoal, a Palavra de Deus, a Bíblia Sagrada é, e será sempre, meu ponto de partida.
Se você é parte dessa família, deve aprender algo, zelar por ela e não a expor e denegri-la quando alguns de seus irmãos pensarem diferente de você. Se você não faz isso com seus irmãos de sangue, por quê haveria de fazer com os seus irmãos(ãs) no precioso sangue de Cristo? Ao contrário devo sair em defesa, me pronunciar e se possível, e de todas as formas proteger meu irmão(ã) dos odiosos que tentarem macular sua pessoa.
Certa vez, quando eu morava em Israel e o país estava em um forte conflito (guerra) no sul do Líbano, tive uma experiência marcante. Havia um movimento chamado shalom archav que em hebraico significa PAZ Agora! Houve uma grande mobilização pedindo a paz e uma manifestação convocada para Tel Aviv. Lembro, como se fosse hoje, todos nós em vários ônibus, se cruzando pelas estradas e cantando hinos de paz em direção a Tel Aviv, muito emocionante aquilo. Foram mais de 300 mil pessoas naquela noite clamando Paz agora! Na saída antes de embarcarmos no ônibus um membro do kibutz onde eu morava e amigo, me perguntou: “Miguel, por que você vai a essa manifestação? Você nem é judeu! “ Tive a oportunidade então de dizer a ele algo que o pastor Luterano Martin Niemöller, que viveu o horror do nazismo disse no início do período pós-guerra quase como uma autoconfissão e, que dentre as versões, a mais conhecida no Brasil talvez seja a citação abaixo:
“Quando os nazistas vieram buscar os comunistas, eu fiquei em silêncio; eu não era comunista.
Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu fiquei em silêncio; eu não era um social-democrata.
Quando eles vieram buscar os sindicalistas, eu não disse nada; eu não era um sindicalista.
Quando eles buscaram os judeus, eu fiquei em silêncio; eu não era um judeu.
Quando eles me vieram buscar, já não havia ninguém que pudesse protestar.”
Faço questão de dizer a você que partilha comigo o sangue de Cristo, que afirma os credos históricos e se declara cristão, que pretendo nunca repetir esse “poema”, nunca precisar fazer essa “auto confissão” por ter deixado um irmão(ã) meu (minha) na trincheira levando balas de qualquer tipo… isso, para não ter que começar outro poema desse tipo assim
Quando vieram buscar os batistas, eu fiquei em silêncio; eu não era batista.
Quando eles prenderam os calvinistas, eu fiquei em silêncio; eu não era um calvinista.
Quando eles vieram buscar os que se posicionaram contra os horrores e as injustiças, eu não disse nada; eu fiquei quieto para não me comprometer.
Quando eles buscaram os que afirmavam a verdade da Bíblia, eu fiquei em silêncio; afinal de contas, eu as afirmo de outra forma…
Quando eles vieram me buscar, já não havia ninguém que pudesse protestar.” E eu fui levado aos tribunais
Espero quem nunca seja necessário, mas se você é meu irmão na fé e em Cristo Jesus partilha da mesma família, saiba quem sempre que souber me levantarei para defender você, você não ficará só na trincheira da vida
A Igreja de Jesus Cristo é, em seu todo, uma Igreja Sacramental. Se considerarmos a palavra sacramento em sua etimologia ela traz um claro e indiscutível significado, se considerarmos a religiosidade e os significados que foram adotados ao longo dos séculos, se torna uma polemica. Há um problema aqui com as tradições eclesiásticas. Por conta delas, alguns grupos rejeitam o uso do termo por não desejarem serem identificados como parte desse ou daquela tradição cristã, mesmo que utilizem eles um termo paralelo que traz um significado semelhante. Algo que somente a idiossincrasia humana pode explicar. Na raiz, a palavra sacramento traz os seguintes significados:
Sacramentum_ De latin. Sacer (sagrado), sacrare (dar caráter sagrado a, consagrado a){…} processo civil; juramento militar; juramento; Lat. Eclesiástico: segredo, a revelação do evangelho; mistério; santo ministério. [1]
No uso antigo traz a ideia de Juramento; ação de jurar, de prometer solenemente. A tradução do grego traz a palavra Mystêrion mas não tem a conotação de mistério, no sentido de misterioso ou segredo. Seu sentido é oculto, inefável, grandioso, incompreensível. O plural de mystêrion é mystêria. Por isso, algumas confissões cristãs usam o termo “Santo mistério”
Algumas confissões reformadas usam a expressão “ordenança” para o batismo e a ceia do Senhor. O que se alinha com o pensamento histórico das denominações pré-reformadas e da igreja indivisa como o catolicismo romano, o anglicanismo e a igreja ortodoxa, mesmo entendendo-se que cada uma dessas tem uma compreensão particular, mas que isso não leva a descaracterização do termo na sua mais remota origem.
A definição de sacramento, dadas por Agostinho de Hipona é que eles são sinais visíveis de uma graça invisível e que deveriam ter sido instituídos diretamente por Jesus Cristo. Ainda Segundo Agostinho um sinal é tudo aquilo que, além de atuar por si em nossos sentidos, nos leva também ao conhecimento de outra coisa concomitante. Segundo ele, os Sacramentos pertencem à categoria dos sinais, porque nos mostram exteriormente, por certa imagem e semelhança, o que Deus opera interiormente, em nossa alma, pelo Seu poder invisível.
A Reforma trouxe a consciência de que os únicos instituídos diretamente por Jesus Cristo foram a Ceia do Senhor (Eucaristia) e o Batismo. Algumas confissões reformadas consideram os demais “sacramentos” como rito sacramentais, que mesmo não tendo sido instituídos por Cristo tem o “peso” da Igreja e contém princípios bíblicos valorosos que podem ser incluídos o conceito de “missão sacramental” sendo eles, a confirmação (profissão de fé), Penitencia, unção (oração) pelos enfermos, ordens e o casamento. Os dois últimos especialmente têm um mandato bíblico claro que envolve diretamente a missão da igreja. (Tito 1:7; 1 Tm 3:2; Gn 23:24)
O ser humano é o sinal mais perfeito da Criação. Ele é um ser sacramental porque foi criado à imagem e semelhança do próprio Deus. Todos os outros sinais, para serem entendidos, supõem um relacionamento em profundidade entre o homem, o mundo e Deus. O ser humano é o destinatário da missão da Igreja. Evangelizado se torna, ele próprio, sinal de Jesus Cristo em meio ao mundo. A igreja der Jesus Cristo, é a extensão do próprio Cristo a sua face perceptível nesse mundo e tem como propósito a mesma missão de Jesus, mostrar a face do Pai. Conhecida como seu corpo místico, ela tem como membresia todos aqueles que introduzidos nela pelo batismo (sacramento) formam um corpo, um sacerdócio santo e, sua mais profunda e pertinente marca é a sua ação missionária que prega o arrependimento e a aceitação do sacrifício de Cristo como único meio de graça para a salvação e isso, sem qualquer sombra de duvidas é parte de sua missão sacramental.
A face sacramental da igreja realiza a missão de Jesus. E, como dissemos, o batismo vai ser parte precisa dessa missão pois tem como prerrogativa não ser apenas um rito de passagem e sim, envolver o ensino e o multiplicar discípulos, cumprindo a grande comissão que considero a mais sacramental das missões a saber, cumprir o maior desejo do Pai, “que nenhum se perca”. (Mt 18:14; Jo 6:39). A Missão de levar as pessoas a Cristo, ensiná-las e batizá-las é a missão de cada membro da igreja e assim entra na perspectiva da missão sacramental.
É importante esclarecer que a missão sacramental ou o fato de nossa igreja ser uma igreja sacramental, nada tem a ver necessariamente com o caráter solene, litúrgico ou formal das celebrações. Podem existir comunidades que se expressam dentro de uma perspectiva litúrgica bem (pesada, formal, solene etc.) e ao mesmo tempo não tenha nenhum envolvimento com a missão sacramental. Ao mesmo tempo que igrejas sem uma tradição litúrgica histórica e de expressão mais contemporânea podem estar totalmente envolvidas coma missão sacramental. Resumindo isso posso dizer que o conceito de “Missão Sacramental” ou igreja sacramental, não é necessariamente igual a igreja litúrgica ou tradicional.
A Missão sacramental se expressa nas palavras de Jesus em Mateus 28:18-20 sendo esse o maior sinal de que a igreja está associada com o sentido real do que significa sacramento, ordenança, mistério. A Igreja sacramental entende que no batismo somos inseridos no corpo e convocados, como membros desse corpo, a cumprir os propósitos de Deus. Ela se vê como instrumento e meio e nunca como fim em si mesmo. Na Ceia do Senhor (eucaristia) ela entende que este sacramento nos faz relembrar o sacrifício e celebrar a ressurreição do Senhor Jesus e, em nenhuma hipótese pode deixar que tudo isso seja em vão. Assim, ela entende que sua missão está totalmente envolvida com esses sacramentos e que eles são também a fonte de sua inspiração.
Miguel Uchoa
Arcebispo e Primaz
Igreja Anglicana no Brasil
Bispo Diocesano de Recife
Reitor da PAES
[1] Arnaldo Schuler_ Dicionário enciclopédico de teologia.
Chegamos até vocês para cumprir com o nosso ministério pastoral e profético de anunciar o Reino de Deus e denunciar toda injustiça e tudo aquilo que se levante contra os valores de Reino. Para tal nesse período eleitoral e decisivo da nossa nação, recomendamos:
Exercer a sua cidadania – Todo(a) brasileiro(a) devidamente habilitado(a) pode e deve exercer o direito de escolher um candidato. Mas como parte da liberdade democrática, ninguém é obrigado a votar em ninguém.
Atentem para a importância da eleição- Os candidatos proporcionais (deputados e senadores), serão os responsáveis por criar e homologar as leis que nos afetarão diretamente. Em cada aspecto deve ser levado em consideração seus posicionamentos.
Serenidade diante de todo Tumulto. A campanha eleitoral está acirrada. Como fato único na história do Brasil, um candidato foi vítima de atentado contra sua vida. A serenidade é necessária diante de tanta confusão estabelecida nessa disputa. Recomendamos pensar e não se deixar manipular pelos discursos e promessas que são as mesmas a cada quatro anos.
Entender que obrigação não é proposta- Os candidatos a cada eleição afirmam com altivez que vão defender os recursos para EDUCACÃO-SAÚDE-COMBATE A VIOLENCIA- SEGURANÇA. Lembrem que essas são parte das obrigações constitucionais do Estado e não benefícios que eles trarão. Eles são OBRIGADOS a fazer isso. Seu candidato e seus apoiadores colocam esses temas como sendo uma grande proposta pessoal deles e não obrigação do Estado e de sua função de parlamentar.?
Não se deixar manipular. Sugerimos fazer uma breve pesquisa sobre o candidato e seus apoiadores, quem eles são, onde estavam e com que palanque estavam associados na ultima eleição. Poderá haver surpresa, candidatos que acusavam os que hoje são seus aliados de toda sorte de males e hoje passeiam de mãos dadas pedindo seu apoio tem se tornado comum. Eles mudaram e sempre mudam, e você mudou com eles por isso?
Priorizar princípios e valores. Os valores Judaicos-cristãos são a base da sociedade ocidental. Você como cristão deve lutar para preservá-los. É verdade que não estamos elegendo padres nem pastores e sim presidente e legisladores. Mas esses legisladores estão entrando nos nossos lares e contra o direito da família, têm tentado educar nossos filhos através da criação de leis e estratégias dentro do sistema educativo. Não sejamos ingênuos, o mal não se apresenta raivoso, mas sonso e cínico. O que pensam o seu Candidato ou seus apoiadores a esse respeito? Abaixo alguns desdobramentos dos Princípios e valores que defendemos como cristãos
Valores da família- A cristandade crê na família como a união de um homem e uma mulher com o propósito de ser feliz, de procriar e encher a terra da graça de Deus. Rejeitamos veementemente o que tem se chamado de “ideologia de gênero” abusando emocionalmente nossas crianças. A criação de uma criança sem a presença masculina e a feminina traz malefícios comprovados cientificamente há muito. O que defendem os seus candidatos e seus apoiadores a esse respeito?
Valores éticos – A honestidade e a integridade são valores inegociáveis. Os candidatos devem ter seus nomes limpos e nunca terem atentado contra o erário público, que drena as riquezas da nação. Recentemente vimos o nosso país ser alvo do maior escândalo de corrupção da história e talvez do mundo. Seu candidato ou seus apoiadores estão entre eles?
Valores da vida – Como cristãos defendemos a vida e somos contra a interrupção da gravidez em qualquer fase dela, desde a fecundação. Entendemos o aborto como o assassinato de um não nascido indefeso. O que seus candidatos e seus apoiadores pensam sobre isso?
Valores da justiça – Justiça na compreensão do evangelho é “fazer a coisa certa”, o cristianismo defende a igualdade de oportunidade para todos e o cuidado com os mais desprovidos e marginalizados da sociedade. Rejeitamos as sociofobias seja homo, hétero ou de qualquer tipo. Todos devem ser iguais perante a lei e todos devem ter deveres e direitos.
Defender a livre iniciativa e o direito à propriedade – O Estado tem suas obrigações e a iniciativa privada deve ter sua liberdade. Defendemos a economia de mercado e entendemos que o Congresso Nacional e a Presidência da República tem o dever de promover uma economia equilibrada, fortalecer o acesso ao crédito, valorizar as riquezas nacionais, diminuir o tamanho do Estado para que haja geração de empregos que trará uma sociedade mais justa e preservar o direito à propriedade combatendo as invasões dessas mesmas.
Entender que não há candidatos “ungidos” – A política é uma atividade nobre e deve ser exercida para o povo e em benefício dele. A Igreja não deve ser “cabo eleitoral”. A lei proíbe o uso da estrutura das religiões e da fé como plataforma de lançamento de candidatos. Estamos elegendo pessoas para fazer o bem da nação e não da minha religião. Qual a prática de seu candidato e de seus apoiadores a esse respeito?
Denunciar toda forma de corrupção. Ela destrói as bases produtivas e a economia da nação, drenando seus recursos e evitando que eles sejam utilizados em prol das obrigações inerentes ao Estado. Seu candidato ou seus apoiadores estão ou estiveram envolvidos em corrupção?
Defender o Estado Laico, mas não ateu- O Estado laico defende a liberdade religiosa e não prioriza nenhuma delas. Temos visto uma tentativa de se criar um Estado “Cristianofóbico”. Qual a postura de seu candidato e de seus apoiadores quanto a isso?
Rejeitar a legalização do consumo de drogas- Entendemos que o que gera o tráfico de drogas são os consumidores. Muitos deles são vítimas outros são protagonistas e, conscientes ou não, se tornam os associados indiretos dos traficantes, sem consumidores não haverá tráfico. As drogas tem sido a causa de muitos dos maiores males que vive a sociedade mundial. Como Igreja temos lutado com nossas forças com ou sem apoio do Estado na criação de redes de apoio e casas de recuperação d usuários de drogas. Entendemos que a educação e uma família equilibrada são o maior antidoto contra o uso de drogas. Essa tem sido a missão da Igreja. O que seu candidato e seus apoiadores pensam sobre isso?
Escolher candidatos- Existem candidatos e partidos que facilmente podem ser identificados dentro dessas recomendações. A escolha será sempre de cada um de nós, e as consequências da mesma forma, sempre serão sofridas por cada um de nós.
“Ai daqueles que fazem leis injustas, que escrevem decretos opressores para privar os pobres dos seus direitos e da justiça” (Isaías 10, 1)
Colégio Episcopal da Igreja Anglicana no Brasil
Revmo. Miguel Uchoa Bispo Primaz Diocese de Recife (PE)
Revmo. Evilásio Tenório Bispo Auxiliar Diocese de Recife (PE)
Revmo. Marcio Medeiros Meira Diocese de João Pessoa (PB)