Umas das coisas que me chama a atenção na igreja e, especialmente nos tempos atuais, é uma quase “Luta” que julgo desnecessária entre pessoas que insistem em um ultra conservadorismo e outras que insistem em um “inovacionismo” acrítico. Eu explico isso. Existe na igreja hoje um segmento que insiste em manter a igreja nos trilhos da reforma do século XVI e para isso faz o que pode para manter certas práticas, costumes, liturgias que , mesmo sendo uma herança histórica considerável, não dizem muito ou nada aos ser humano do Século XXI. Nesse contexto de ser uma igreja fora do contexto de seu tempo, ela vai se perdendo e perdendo assim a oportunidade de ser relevante para seu tempo, para o seu mundo.
Isso se reflete no anúncio da mensagem porque esse anúncio não se resume ao púlpito, mas a completude do ser da igreja. Por exemplo, a igreja foi relevante quando em meio a um analfabetismo generalizado, um ambiente cultural e intelectual paupérrimo faz uso de um lecionário com leituras dominicais e diárias que em seu contexto anunciam o todo da mensagem de Deus em um ano completo. O povo, mesmo sem acesso intelectual às Escrituras, ouvia a Bíblia toda e isso se dava nos cultos regulares através das 4 leituras Bíblicas dos salmos, lição do AT, cartas e evangelho. Dalí se tiravam as mensagens e dali se ensinava a Palavra ao povo. Em minha opinião, isso foi um salto que eu chamaria de engenharia eclesiástica impressionante e revolucionária para seu tempo. Mas isso não significa que essa mesma estratégia seja eficaz nos dias de hoje. Calvino, reformador, tem uma frase intrigante
“ Eu sempre faço disso a minha regra: Que aqueles que me ouvem possam tirar lucro com o ensino que ministro…Se não tenho esse desejo e não procuro a edificação daqueles que me ouvem, sou um sacrilégio, uma profanação da palavra de Deus” João Calvino
Assim é, e assim penso, a mensagem da igreja tem que gerar isso nas vidas de seus frequentadores, use o método que usar, a estratégia que desejar, mas que seja claramente para a edificação daqueles que ouvem. Isso não invalida o uso por exemplo do lecionário nos dias de hoje, contanto que se use de forma criativa e não fazendo uma miscelânia de 4 textos algumas vezes desconexos no sentido e no propósito.
Sou defensor e praticante de uma estratégia que venha, de qualquer maneira, edificar a congregação, desafiar os visitantes e os novos convertidos em uma só mensagem. Estou saturado de mensagens intituladas expositivas que simplesmente expõem a história, mas as aplicações para o mundo da atualidade se perdem nos detalhes históricos e nas minúcias das traduções e léxicos… e , que no fim, deixam vazios e sem esperança a vida daqueles que saem dos templos aos domingos para mais uma semana de luta no dia a dia da vida.
Veja o que Lutero disse:
“Se você prega o evangelho em todos os aspectos com exceção dos assuntos que dizem respeito aos seus tempos, você não está pregando o evangelho” Martinho Lutero
É desnecessário taxar mensagens de temáticas, expositivas ou textuais, na realidade elas devem ter sempre um pouco disso tudo. Elas devem estar dentro de um tema que a sociedade se interesse, deve expor as escrituras sob este contexto e podem ser parte de um conjunto de textos que tratam daquele tema. O mais importante não é que sejam isso ou aquilo, mas que seja isso e aquilo uma coisa completa a outra.
Mas a mensagem da igreja não está apenas no púlpito, ela se encontra em todos os detalhes de sua apresentação. O ambiente físico deve ser atraente de acordo com a necessidade, faixas etárias etc. Esse ambiente deve ser ordenado, confortável e o mais atraente dentro das possibilidades. A tese de que alguém que visita uma igreja já decidiu voltar antes do pregador expor a palavra me parece fazer sentido, o ambiente pode ser uma estratégia.
A tecnologia nos permite implementar um sistema onde o auxílio de audio + visual+ escrita ajude o congregado a assimilar e guardar as palavras valorosas ministradas naquele ambiente e vencer as estatísticas que afirmam que 95% do que se ouve se perde em 72 horas.
O culto inspirativo não significa uma desordem litúrgica, mas solicita um ambiente ordenado e informal ao mesmo tempo, uma linguagem contextualizada, uma atmosfera espontânea e livre de vícios e repetições que decoradas saem dos lábios como uma expressão sem sentido e profundidade.
A informalidade, da mesma forma, não quer dizer desordem , um culto tem começo , meio e fim bem definidos composto de louvor, orações, intercessões, mensagem, anúncios.. isso tudo em um ambiente informal que aproxime a congregação do dirigente e elimine as barreiras tradicionais que colocam o “clérigo” num patamar superior e, que quando fortalecido por esse, quase que inalcançável.
A mensagem da igreja começa desde a sua fachada, seu prédio, sua estrutura e vai se aprofundar em seus cultos e ganhar solidez nas suas pregações…
Sou ministro anglicano, parte de uma tradição milenar do cristianismo, mas vivo no mundo atual, tenho saudades de certas coisas do passado e de um passado que nem vivi, mas fixo meus olhos neste mundo porque creio que uma igreja para o mundo, prega para o mundo que vive!